Mais uma data alusiva à libertação dos escravos no Brasil se aproxima e, mais uma vez, este assunto é urgente e necessário. E creio que será desta forma por muito e muito tempo. Não é de se admirar que em nosso país, se fale tanto da Lei Áurea mas se fale muito pouco dos movimentos abolicionistas e dos negros nascidos livres e de grande renome que construíram pontos importantes da história da sociedade brasileira. Exemplos como José do Patrocínio, que ajudou a fundar a Academia Brasileira de Letras e era integrante da Liga dos Homens de Cor, movimento abolicionista muito importante para o processo de libertação acontecido em 1888.
Este esquecimento, muita vezes de forma proposital, além de sutil, é responsável pela manutenção do mito da democracia racial onde é muito importante que se veja, no negro contemporâneo, a sombra da mão misericordiosa do branco. Isto quer dizer que muitos mecanismos invisíveis alimentam e mantém o racismo tal como ele se apresenta hoje.
No momento da instituição da Lei Áurea, por exemplo, o número de negros livres e alforriados já superava os escravizados. Conclui-se, assim, que o processo de libertação do negro brasileiro foi construído por mãos negras. A negação de se enxergar o negro como ator e autor de seu próprio movimento de resistência, coloca a população negra num lugar de subserviência que é mantido no inconsciente da população brasileira.
Precisamos, neste 13 de maio, assumir nosso papel, como negros, de atores de nossa resistência e, consequentemente, de nossa luta. Salve Zumbi dos Palmares, José do Patrocínio, João Candido, Abdias Nascimento, Lélia Gonzales, Milton Santos, Djamila Ribeiro, Sueli Carneiro e todos os outros negros e negras que, anonimamente, resistem todo dia com seus corpos e suas presenças em todos os sítios de nossa sociedade em busca da abolição completa, que não aconteceu com o 13 de maio de 1888.
Paulo Sergio Gonçalves – paulo.g@estacio.br
Professor de Sociologia e coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas da Estácio.