Ronaldo Mota*
Certas efemérides ganham algum sentido quando estimulam reflexões, conectando o passado recente com o futuro próximo, à luz do que enxergamos no presente. Garantia de acerto ninguém pode dar quando fazemos prognósticos, mas estes melhoram muito quando as percepções são mais acuradas. Ainda que as hipóteses sejam múltiplas, tão variadas como aqueles que as formulam, é tentador pensar em bifurcações simplificadoras. Portanto, o número dois aqui é representativo dos ramos principais e alguns elementos essenciais, sem pretender ser completo ou contemplar os infinitos galhos e variantes deles decorrentes.
Do ponto de vista da economia, temos especiais oportunidades para aumentar de forma significativa nosso padrão de produtividade, caminhando em direção a um desenvolvimento econômico que seja sustentável do ponto de vista social e ambiental. Vivemos um acelerado processo de globalização, onde as transações internacionais são, em parte, resultantes do parâmetro produtividade média dos trabalhadores de cada país. Indicadores de produtividade mantêm estreitos vínculos com a capacidade de inovação e a qualidade da educação da população, entre outras variáveis. O Brasil no comércio global responde por somente insuficientes 1,2% das transações, ou seja, menos da metade de nossa participação percentual de população no planeta, evidenciando nossas fragilidades competitivas ao lado do efetivo potencial de crescimento. No ano passado, houve alta de 18% nas exportações, indicando que podemos escalar posições no ranking global, especialmente se ampliarmos acordos com espaços como União Europeia e Índia.
Aumentar produtividade é, principalmente, melhorar o nível educacional. Os resultados do PISA (Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes), promovido pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), envolvendo jovens de 15 anos de mais de mais de 70 países, demonstram de forma inequívoca nosso passivo extremado. Classificado em 6 níveis, o nível 4 em matemática é o mínimo indicado para as carreiras tecnológicas, fortemente associadas à capacidade de inovar. No Brasil, somente 4% atingem o nível quatro, em comparação com 38% na Austrália, 43% no Canadá e 52% na Coréia.
Do ponto de vista social, temos elementos mais do que suficientes para nos convencermos de que o abismo social entre os mais ricos e os mais pobres inviabiliza o desenvolvimento sustentável. Temos, ao longo do tempo, obtido alguns sucessos em aumentar a escolaridade média, na erradicação da miséria e na redução dos índices de mortalidade infantil. Por outro lado, falhamos, e muito, em diminuir a violência, parte dela resultante das citadas disparidades sociais, e, principalmente, em ampliar a qualidade do ensino, com destaque negativo para o ensino médio. As discussões e as aprovações em curso da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) representam passos positivos em direção a, pelo menos, sairmos da simples constatação do desastre. Mesmo assim são, claramente, medidas insuficientes para encaminharmos o complexo tema da qualidade da educação.
Quanto à política, teremos as eleições nacionais. A questão passa a ser menos quem as vencerá e mais quão legitimados estarão o novo presidente e seus parlamentares parceiros para implementar aquilo que prometeram na campanha. A melhor perspectiva é um debate equilibrado e racional e, fruto deste, as consequentes escolhas conscientes pela maioria. Entre os temas principais, o papel e do tamanho do
Estado. Seja um Estado eficiente e menos intervencionista ou, alternativamente, um Estado amplo, promotor central do desenvolvimento, ainda que em regimes de parcerias com os diversos atores da sociedade. A pior perspectiva seria um debate extremado e irracional, em que, por certo, eventuais vencedores terão opositores ferozes e enormes dificuldades em implementar as propostas que apresentaram nas eleições. As discussões terão sido suficientes unicamente para estimular a militância radicalizada e para convencer uma maioria eleitoral frágil. Porém, incapazes de agregar, pós-período eleitoral, uma predominância legitimada e substantiva que consiga levar adiante os temas mais relevantes para o país.
Longe de ter o peso dos temas acima, mas é também ano de Copa da Mundo. De um lado podemos ser surpreendidos por Suíça, Costa Rica e Sérvia, ficando a exemplo de 1966, fora das oitavas. Por outro, podemos, como temos o legítimo direito de esperar, uma belíssima final com Alemanha, na qual possamos nos redimir de vez de um passado nem tão distante. Assim como nos assuntos anteriores, não precisamos revidar os 7 a 1 de imediato, mas necessitamos urgentemente sentir que, ao menos, estamos na direção correta, tanto no tempo como no espaço.
*Chanceler da Estácio