Parceria da OIM com Senac oferece formação profissional a venezuelanos

As histórias dos imigrantes que deixaram o país vizinho da Venezuela para fugir da fome são quase sempre as mesmas. A maioria chega sem perspectiva alguma sobre o que lhe aguarda no futuro. E a principal dificuldade de quase todos os venezuelanos que buscam trabalho no território brasileiro é não ter uma qualificação profissional feita no Brasil para ser inserido no mercado local.

Foi pensando nessa situação que instituições que dão apoio a refugiados se juntaram em busca de capacitação para os venezuelanos. Foi assim que surgiu a parceria entre o Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio (Senac/RR) com a Organização Internacional de Migração (OIM), que no ano passado formou mais de 200 imigrantes.

Para este semestre, já estão acontecendo 10 cursos que vão do Português básico à qualificação nas áreas de técnicas de depilação, manicure, garçom, assistente administrativo, culinária e técnicas para recepção em hotéis.

Um dos alunos desses cursos, Erixon Manuel Martinez Betancourt, conta que está muito feliz com a oportunidade. Ele está empolgado em  poder aprender uma nova profissão e acredita que o curso de técnicas para garçom vai abrir muitas portas. Na Venezuela, ele era militar graduado e a esposa é formada em Engenharia Petroquímica.

A expectativa é entrar em campo, trabalhar de forma legal. Estou disposto a ser um excelente profissional em outra carreira. Sou técnico superior em Informática e minha esposa, Engenheira Petroquímica, mas para entrar no mercado de trabalho é difícil. Por isso, decidi que vamos aprender primeiro coisas básicas para tratar de entrar em campo e direcionar para outras áreas depois”, avaliou.

Ele acredita também que a formação em garçom pode ajudar no processo de interiorização. Segundo Martinez, a expectativa é sair de Roraima para o Sul do país, região que teria muito mais oportunidades de trabalho na área de Engenharia, que é a formação da esposa.

Quando questionamos se está sendo difícil aprender uma nova profissão, ele diz, entusiasmado, que por ser militar estará sempre pronto para qualquer trabalho. “Graças a ONU, por meio do refúgio, estamos entrando neste novo campo de garçom, como primeira parte. Minha expectativa é viver aqui no Brasil, trabalhar e aproveitar o máximo de tempo”, comemora.

A cabeleireira Aumarys Fernandes Rivero também está esperançosa com a formação em garçom. Ela conta que está em Roraima desde dezembro e que desde então não conseguiu um trabalho. “Todos os lugares que vamos, pedem referência ou perguntam se temos cursos feitos no Brasil. Por isso, eu e meu marido estamos aqui”, explica.

Além da profissão como cabeleireira, Aumarys e o esposo tinha uma recuperadora de alumínio. Eles moravam em Maturin, na Venezuela, e tiveram que sair às pressas porque queimaram o lugar onde moravam e a recuperadora. “Precisamos de um trabalho, de uma oportunidade porque deixamos nossa família para trás e eles estão passando necessidade. E nós estamos no abrigo, mas queremos sair de lá para um lugar melhor para nossos filhos”, comenta. Ela tem dois filhos que ficam na Praça das Águas com uma irmã enquanto estuda no Senac até às 22h.

O instrutor do curso, Eliezer Batista, garante que oportunidades de trabalho não vão faltar. Ele explica que ao final de cada curso, o Senac recebe os currículos dos alunos para inserir no Balcão de Oportunidades.

Durante todo o curso eu reforço que eles precisam se cadastrar no balcão e a própria coordenação do Senac já se disponibilizou em atender os imigrantes para lançar os dados no sistema e aguardar uma oportunidade de trabalho”, informou.