Autismo, além dos mitos e preconceitos

Pouco se fala atualmente sobre a vivência de adultos e idosos no espectro do autismo. Nossa tendência é falar das crianças ou no máximo de adolescentes nesta condição. Como essa condição vai mudando ou não ao longo do tempo no desenvolvimento? O que percebemos nas novas etapas e experiências vivenciadas das pessoas com autismo? Que políticas públicas temos nesse sentido?

O que percebemos hoje é ainda um certo desconhecimento sobre o transtorno, que perpassa o imaginário social como uma forma de mistério, e acaba por criar mitos e preconceitos. Nesse sentido, podemos citar as concepções sobre as “mães geladeira”, rótulo atribuído a mães de crianças com autismo. Acreditava-se que que elas causavam a apatia nos bebês por serem afetivamente frias. Ideia que já não é mais válida no meio profissional, mas pode fomentar conversas populares.  

Assim como o mito de que vacinas causariam autismo, gerado por artigo divulgado em 1998 e que estimulou uma onda “antivacinas”. Posteriormente, a revista The Lancet, onde o artigo foi publicado chegou a se retratar, por averiguar que as conclusões eram falsas. O responsável pelo “estudo” foi, inclusive, considerado inapto para o exercício da profissão, por comportamento antiético e enganoso. Porém, infelizmente, desafazer esses boatos pode levar muito tempo.

A compreensão do transtorno ainda apresenta desafios, inclusive pelo seu largo espectro, o que faz com que cada vivência com diagnóstico tenha suas particularidades. Dessa forma, também não existe um único e exclusivo tratamento para o autismo, assim como suas causas também são relativas. Atualmente a tendência mais aceita é de ordem multifatorial, ou seja, fatores genéticos e ambientais, em uma interação única.

Mas um avanço que estamos conquistando, é o reconhecimento de quem um indivíduo não deve ser reduzido ao seu diagnóstico. Pessoas com TEA também possuem grandes potenciais de realização profissional e pessoal. Tem sim seus desafios, associados com recorrência a interações sociais e ambientais.

Porém, qual de nós também não possui seus desafios? Quantos de nós talvez não tenhamos diagnósticos, simplesmente por não buscarmos avaliação profissional? Muitos diagnósticos de Transtorno do Espectro do Autismo, são descobertos na idade adulta.

Mas independentemente de rótulo clínico, desenvolver a capacidade de convivência é o desafio para todos nós. Como cidadãos, como humanos, podemos compreender um pouco mais, investir em um mundo de respeito às semelhanças e diferenças. Precisamos buscar o conhecimento a fim de evitar a desinformação que gera preconceito. É através do conhecimento que iremos construir uma sociedade mais fraterna e acolhedora para todos.

*Marcia Rejane Semensato, Coordenadora de Psicologia da Estácio.