A empresa Savana Amazônica vem se destacando no mercado com o uso sustentável e inovador da biodiversidade do lavrado de Roraima e com a valorização da identidade regional
SHENEVILLE ARAÚJO
O amor pela pesquisa, aflorado pela curiosidade inata que o trabalho exige, impulsionou a mudança de vida da bióloga e pedagoga em processo de aposentadoria, Eliana Fernandes, que quando menos esperava se viu em meio ao mundo dos negócios, devido a concretização das descobertas que fez em uma das incursões à savana macuxi ou mais precisamente, ao lavrado de Roraima.

Apaixonada pela investigação em campo, a pesquisadora resolveu empreender esforços para estudar as propriedades de uma planta encontrada no lavrado, que despertava nela muita admiração pela beleza e pelo fato de que, segundo ela, muita gente considera a espécie como sem utilidade nenhuma.

“Eu já conhecia a planta, achava muito bonita, mas não entendia porque tanta gente falava que ela não servia para nada. Sempre que ia fazer pesquisa em campo a observava. Percebi que ela vivia muito bem em áreas degradadas, ou seja, aquelas que já tinham sofrido a ação humana, e ainda se apresentava bem próxima a igarapés. Um dia, em uma das coletas que estava fazendo no lavrado com um grupo de estudantes da escola onde eu atuava, a Maria das Dores Brasil, pedi para um deles, que até hoje está comigo, o Axel Aredes, coletar amostras dela para estudarmos. E foi aí que tudo começou”, relatou Fernandes.
Segundo ela, o estudo inicial foi para saber se realmente a planta era tão ruim ou não servia para nada, como diziam. Mas enfrentou dificuldades nesta primeira fase, pois não possuía os equipamentos e materiais adequados nem suficientes para fazer a investigação de toda a planta. Por isso, decidiu fazer leituras a respeito de procedimentos possíveis para o estudo de composição química.
E ela conseguiu, depois de muita pesquisa bibliográfica, encontrar uma alternativa para entender toda a composição da matéria-prima que buscava trabalhar. Foi um procedimento um pouco mais manual e demorado, mas que resultou na disponibilização dos dados que ela precisava para fazer as descobertas que abriram caminho para iniciar um empreendimento em biotecnologia.
FORMAÇÃO E TRAJETÓRIA PROFISSIONAL– Eliana Fernandes Furtado é graduada em Licenciatura em Ciências Naturais pela UFPA (Universidade Federal do Pará) e tem Licenciatura plena em Pedagogia -Magistério 1ª a 4ª pela UFRR (Universidade Federal de Roraima), de onde tem também mestrado em Recursos Naturais.
Foi professora do ensino básico, técnico e superior do IFRR (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Roraima) e também atuou na rede estadual de ensino, nas escolas Maria das Dores Brasil e Monteiro Lobato. Estando agora nos anos finais de carreira na área de ensino para aposentadoria.
Também foi vencedora de prêmios como o Febrace (Feira Brasileira de Ciências e Engenharia) e o Samsung “Respostas para o amanhã”.
A planta não pode ter o nome revelado por estar passando por processo de patenteamento
Pesquisa desengavetada para as prateleiras do mercado

Depois de todos os estudos e testes iniciais, comprovando que “a planta que não servia para nada”, na verdade pode se converter em produtos voltados para diversas finalidades, desde o tratamento de alguns problemas na pele, como fungos, até mesmo como exterminadora de larvas de mosquitos transmissores de doenças, dependendo da maneira que o extrato é manipulado, Eliana Fernandes conseguiu levar a escola estadual Maria das Dores Brasil, a receber um prêmio de um concurso, promovido pela empresa multinacional sul-coreana Samsung, pelas pesquisas desenvolvidas. Mas não foi isso ainda que a despertou para o mundo dos negócios.
Assim, como diversos casos de pessoas que se viram obrigadas a se reinventar, devido à nova realidade imposta pelo isolamento que a época da pandemia do Coronavírus exigiu, Fernandes após cerca de dois anos que tinha deixado a pesquisa da “tal planta” de lado, resolveu desengavetar as anotações e achados que já tinha feito e começar um novo projeto de vida.
“Nesta época eu estava em uma nova escola, a Monteiro Lobato, trabalhando com outras pesquisas, já nos anos finais para me aposentar. Foi quando me comunicaram que devido a minha idade era perigoso eu ficar em contato com as demais pessoas e me mandaram para casa. Então isso quase me matou. Fiquei muito triste, sem saber o que fazer. Afinal de contas, eu sempre fui do trabalho de campo, dos laboratórios, das pesquisas. O que eu ia fazer em casa? Então, lembrei da última pesquisa que mais me instigou. Com a planta que diziam que não prestava, mas que conseguimos até ganhar um prêmio com ela. Pensei então: eu já conheço ela todinha, já mostramos a eficácia. Acho que agora eu vou tentar transformá-la em produto”, recordou.
E toda uma nova rotina começou a ser estabelecida no ambiente familiar de Fernandes, que tinha na mesma propriedade da casa, também a empresa do marido, Francisco Derval, que para ajudar a pesquisadora nas novas atividades, cedeu parte da estrutura empresarial para ser usada agora como nova área de pesquisas da esposa.
Ela lembrou que os primeiros produtos que conseguiu fazer só com base na aplicação das fórmulas iniciais ficaram “um bagaço”, conforme as próprias palavras, ou seja, o produto final não era comerciável. Mas, com a ajuda da filha, Elyne Furtado, que é profissional de química, conseguiu, depois de seis meses de testes iniciais, viabilizar a composição do extrato da planta em uma fórmula base para sabonete vegetal, com a finalidade fungicida e clareadora, com o devido ponto para uso.
Entretanto, ela precisava ainda da comprovação da aceitação do produto. Para isso, contou com a colaboração de pessoas que já tinham participado das primeiras pesquisas que desenvolveu na escola Maria das Dores, ainda com o objetivo apenas acadêmico. Estudantes, familiares, além de servidores e servidoras, aceitaram testar o produto e deram a aprovação para a pesquisadora, que já estava no caminho de se tornar a mais nova empreendedora de Roraima.
É que depois de todo esse processo de pesquisa, teste em laboratório e diretamente com consumidores e consumidoras, o filho de Fernandes, Lyzandro Furtado, que é empresário do ramo de comércio e representações, propôs para a mãe utilizar as técnicas de venda que dominava para inserir o sabonete no mercado, o que segundo a pesquisadora, resultou surpreendentemente para ela, em algo muito mais fácil do que chegou a imaginar.

“Na primeira saída que ele fez com as amostras, já fechou encomenda com 10 farmácias, com kits de 20 sabonetes. E quando ele me contou e pensei: como assim? Pelo amor de Deus! Como eu vou fazer pra atender tudo isso? Eu que nunca tinha vendido nada”, comentou, recordando de como ficou animada com a perspectiva de futuro que vinha surgindo para ela.
Com apoio familiar e institucional, nasce uma nova empresa em Roraima
A partir dos resultados positivos de vendas que o sabonete vegetal criado por Eliana Fernandes apresentou com a inserção realizada pelo filho no mercado local, ela resolveu então colocar no papel todas as ideias que tinha para a planta do lavrado usada como matéria-prima para o produto de higiene pessoal e tratamento de pele, mas com potencial para muito mais, conforme os estudos prévios que desenvolveu.
Foi aí que partiu para montar uma equipe de trabalho para apoiá-la também na abertura formal de uma empresa, sendo ela a idealizadora e o marido o executor da proposta. Nascendo de maneira oficial em 2023, a Savana Amazônica.
E um dos primeiros a compor o grupo foi o dedicado “pupilo” desde a época de laboratório escolar, o fiel estudante Axel Aredes, que até hoje é um dos principais apoios que tem no empreendimento.
Ele relata que toda a atividade desenvolvida com a então professora Eliana Fernandes, até a parceria, agora empresarial, é algo que classifica como incrível na vida dele, com o surgimento de tantas ideias e possibilidades na área da pesquisa. O que depois, para ele, passou a ter um tamanho muito maior do que imaginava.

“Ver tudo aquilo nascer, as ideias meio estranhas, até os testes com os extratos da planta. Foi uma mistura de empolgação, descoberta. A gente sabia que tinha algo especial nas mãos, só que ainda não imaginava o tamanho daquilo. Teve um momento que marcou muito, foi quando a gente testou nossos primeiros produtos para tratamento de fungo e funcionou. Quando tivemos o retorno positivo das pessoas de que o produto realmente era bom. Foi ali que a ficha caiu e pudemos ver que a nossa pesquisa podia sair do papel e fazer a diferença de verdade na vida das pessoas”, comentou.

Começando então com o apoio familiar e, do então estudante, que passou a ser braço direito, a empresa iniciou o funcionamento com cinco pessoas, e hoje possui seis na equipe, sem contar com as revendedoras.
“Ampliamos a colaboração porque hoje estamos trabalhando para conseguir o registro da Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária]. Isso para conseguirmos nos desenvolver mais, pois funcionamos como uma empresa apenas de produtos artesanais, para os quais temos autorização. Mas, com as novas possibilidades que vêm aparecendo, temos que ampliar essa condição e ter o aval da agência para deslanchar”, explicou, destacando ainda que para a partida inicial com a equipe foi fundamental o apoio que conseguiu por meio do edital do Inova Amazônia, programa de fortalecimento da bioeconomia na região, promovido pela Sebrae-RR (Serviço Brasileiro de Apoio aos Micro e Pequenos Empreendimentos).
“Foi a partir do Inova que eu consegui além do apoio para bolsas de pesquisa, também abrir meus horizontes, me capacitar para essa linguagem de negócios que eu não entendia nada e tinha que passar a me familiarizar. Então, comecei a fazer capacitações do Sebrae. Fiz novos contatos e passei a me sentir mais segura nessa área do empreendedorismo, que eu jamais imaginei que iria estar, pois minha vida antes era apenas na pesquisa, no campo. E quem diria que a minha fascinação por uma planta tão desvalorizada me levaria a empreender”, comentou, reforçando que a planta pesquisada será revelada apenas depois da liberação das análises pelo Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Industrial).
A planta comum do lavrado roraimense que deu frutos e exalou os cheiros da Amazônia

Equipe formada, incentivo alcançado, empresa criada. E três anos depois do primeiro fruto, o sabonete vegetal que nasceu bem em meio a pandemia, produtos. Fica novos produtos vieram .

Agora, a bióloga Eliana Fernandes era empreendedora, idealizadora da Savana Amazônica, já com uma cartela de produtos diversificada, oferecendo além de sabonetes, cremes clareadores de pele, shampoo e solução antimicótica, produto mais vendido do empreendimento, o famoso “Trata-fungo”. Todos já em processo de recebimento de patente (título de propriedade sobre a invenção), com o apoio do Centelha (Programa Nacional de Apoio à Geração de Empreendimentos Inovadores), executado em Roraima pela Faperr (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Roraima).
Mas estava faltando alguma coisa para a Savana se consolidar para além da Amazônia. Foi então em 2024, com a participação no Inova Amazônia Summit, em Manaus, no Amazonas, viabilizado pelo Sebrae-RR, que Fernandes deu um novo passo em direção ao fortalecimento da identidade dos produtos que oferece.
A partir das trocas de conhecimentos e contatos que fez no evento, ela decidiu passar a utilizar outros materiais regionais, além da planta do lavrado, agregando nas fórmulas dos produtos que desenvolveu os cheiros da Amazônia.
“Antes, a gente utilizava as essências que eram as mais comercializadas nas regiões sul, sudeste, centro-oeste do país, as de algas marinhas, lavanda, erva-doce, etc. Elas continuam, mas resolvemos agregar essências que são típicas da nossa região, como buriti, açaí, castanha do Brasil e tucumã. Todas adquiridas de empresas regionais, fortalecendo mais ainda nossa proposta de produtos da Savana Amazônica e contribuindo um pouco mais para a bioeconomia”, informou, destacando ainda a identidade visual da marca passou a incorporar também elementos típicos da cultura e paisagem roraimense.
Mas, apesar da ideia para o reforço da identidade e valorização da regionalidade ter surgido somente na edição 2024 do Summit, neste mesmo evento, a agora empreendedora, representante de uma startup (empresa emergente e inovadora), teve confirmada a qualidade, viabilidade e poder de inserção no mercado, com potencial de vendas para além dos lavrados de Roraima.
Isso porque o contato comercial com a Bemol, uma rede de lojas de departamentos fundada em Manaus, mas com unidades espalhadas pelo Norte do país, foi feito durante uma rodada de negócios no evento, em que a Savana Amazônica passou a ser fornecedora de produtos para esta empresa de grande porte, saindo pela primeira vez dos limites comerciais locais.
E esta é uma expansão que promete não ficar somente pela região. Muito pelo contrário. A “planta que não prestava para nada”, já está quase com passagens em mãos para viajar pelo mundo.

Fernandes informou que conversações para exportação dos produtos para Austrália e Dubai também foram iniciadas durante rodadas de negócios internacionais que conseguiu participar. Para isso, ela ressalta que foi importante ter participado de uma capacitação do Peiex (Programa de Qualificação para Exportação), viabilizada pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio aos Micro e Pequenos Empresários), em parceria com a ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos).
“Já fizemos os contatos iniciais. As pessoas que representam as empresas com quem tive contato gostaram muito dos nossos produtos e disseram ser isso que estavam buscando na região amazônica. Agora para dar prosseguimento ao processo estamos apenas dependendo da finalização da liberação do registro pela Anvisa e nossa empresa passará para a próxima fase, que é a exportação para fora do Brasil”, informou, animada com a fase que está vivenciando. “Quero muito viajar. Quero que meus produtos viajem também. Aliás, minha planta, ‘que não prestava para nada’, mas no fim toda a beleza que eu via também é muito útil”.

A pesquisadora se declara como muito satisfeita com toda essa jornada que o amor pela ciência a fez traçar, podendo usar os conhecimentos que construiu ao longo dos anos para uma aplicação sustentável com produtos típicos da savana amazônica, em especial do lavrado roraimense, e podendo inovar por meio deles.
“Por não existir nenhuma empresa, pelo que eu saiba até esse momento, que utilize essa planta que estudamos, eu digo que o trabalho que fizemos com ela, a fórmula que desenvolvemos, o produto que chegamos é uma inovação. Porque ela não é conhecida, ela não é estudada. E os metabólicos dela não foram utilizados para os mesmo fins dos meus produtos. Então, eu desenvolvi a minha tecnologia, a maneira como eu utilizo os meus materiais para agregar na minha base. Considero isso uma inovação tecnológica com o manejo de materiais sustentáveis, matérias da savana amazônica”, destacou.
Potencial de exportação, mas a valorização do comércio local continua

Mesmo que já esteja dando passos mais largos, com “pézinho” já para fora do Brasil, foi o trabalho de revendas que impulsionou inicialmente a Savana Amazônica. Primeiro pela iniciativa do filho, Lizandro Furtado, que se tornou representante oficial da empresa, mas depois com a chegada de mulheres que souberam do produto e buscaram a oportunidade de trabalho para incrementar o orçamento pessoal ou familiar.
Uma delas é Cleina de Jesus, que recebeu a indicação dos produtos da Savana por uma vizinha, e resolveu procurar a empresa, apostando no potencial de vendas e já está há um ano atuando com essa parceria.
“Já tenho até clientela fixa. Acredito que pela qualidade dos produtos que sei que têm, já que também sou consumidora, e porque as pessoas para quem eu vendo falam muito bem e sempre voltam para comprar novamente. E dos diferenciais que demonstram buscar, é que são naturais. É um dos fatores que a clientela mais gosta”, relatou, destacando ainda que esse trabalho contribui significativamente para incrementar a renda dela e que a expectativa é seguir vendendo cada vez mais.
Uma das clientes a que a revendedora Cleina se refere é a autônoma Cleucélia Souza, que declarou ter desconfiado dos produtos inicialmente, mas que hoje, não deixa de comprar sempre que acabam.
“O meu preferido é o sabonete. Comprei depois de muita propaganda que ouvi sobre ele e me surpreendi positivamente com os resultados. Ele é bom mesmo. Funciona e sei que muita gente gosta porque às vezes, quando vou atrás, já está esgotado e tenho que esperar”, disse, informando que usa outros produtos que aprova também, como o creme hidratante para o rosto.
A assistente administrativa Dinorá Poliny Barros também é uma cliente fidelizada e já inseriu os produtos da Savana Amazônica na sua rotina de cuidados pessoais. “Já experimentei os sabonetes faciais, esfoliante e hidratante. Gostei muito dos produtos. Têm ótima qualidade e senti uma melhora, principalmente usando os sabonetes faciais indicados para acne. Agora estou fazendo uso do hidratante facial para clarear as manchas que ficaram das acnes”, relatou, comentando que a Savana era uma empresa que ela não conhecia e hoje recomenda sempre que pode para amigas e pessoas conhecidas.
Atualmente, a Savana Amazônica trabalha com três revendedoras e a empresária está analisando a entrada de novas, que buscam a oportunidade, pois a cartela de produtos foi ampliada e continua em processo de criação de novidades para lançamento inicial no mercado local.

Com um total de oito produtos disponíveis para vendas (sabonete em barra, creme hidratante, shampoo, solução antimicótica, máscara facial esfoliante, creme esfoliante clareador corporal, mousse de limpeza facial e sabonete líquido), a empreendedora Eliana Fernandes informou que a equipe da Savana Amazônica está trabalhando ainda na inserção de um novo produto, que é o aromatizador de roupas de cama e está em fase de estudos para o lançamento de mais um. Desta vez focado exclusivamente no público masculino.
“Temos demanda específica para este público e já estamos trabalhando em pelo menos um produto, que logo, logo estará pronto para os consumidores, que buscam informações constantemente”, comentou.

A Savana Amazônica que começou vendendo cerca de 200 unidades de sabonetes vegetais no primeiro ano de funcionamento (2023), já soma mais de duas mil unidades vendidas só de sabonetes desde o início das atividades, sem contar os demais produtos da cartela.
“Temos muitos projetos em mente. Tenho vontade de criar mais e expandir. Mas tudo tem que ser muito bem estudado. Não é só querer fazer. Temos que cumprir todas as etapas com responsabilidade”, ressaltou Fernandes.
Bioeconomia como alternativa e tendência de sustentabilidade

Segundo apontamentos do relatório PIB da Bioeconomia da FGV (Fundação Getúlio Vargas), nos últimos anos, tem-se registrado interesse crescente pelo desenvolvimento de uma bioeconomia baseada no conhecimento e na ciência, principalmente voltada para o avanço biotecnológico. Isso porque a bioeconomia passou a ser incluída na agenda de políticas públicas em diversos países como alternativa para atingir os compromissos com os da Agenda 2030 e os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), além do Acordo de Paris.
No Brasil, conforme o relatório da FGV de 2022, a Bioeconomia representava cerca de 20% do PIB (Produto Interno Bruto) do país no ano de 2019. Além disso, um estudo realizado pelo Climate Policy Initiative (Iniciativa de Política Climática)/Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (CPI/PUC-Rio) e projeto Amazônia 2030, aponta que a bioeconomia tem um potencial transformador na promoção do uso sustentável da biodiversidade, valorização de conhecimentos tradicionais, desenvolvimento de novos modelos de indústria, promoção da transição energética e geração de riqueza com justiça social.
Esse cenário é confirmado também em publicações científicas como “Bioeconomia: Um novo caminho para a sustentabilidade na Amazônia?”, de autoria das pesquisadoras Michelle de Oliveira Barbosa e Sandra Maria Franco Buenafuente, e dos pesquisadores Alexandre Almir Ferreira Rivas e Luiz Antonio de Oliveira, divulgado pela Research, Society and Development, uma revista científica multidisciplinar internacional, voltada para a disseminação do conhecimento para desenvolvimento social, científico e tecnológico.
Na publicação, o Brasil é confirmado como um país com potencialidade de desenvolver e se destacar no cenário mundial, considerando o que é classificado na pesquisa como com aptidão natural para o desenvolvimento da bioeconomia.
O estudo aponta ainda um destaque especial para a região amazônica nessa área da bioeconomia, devido a riqueza em biodiversidade, em material genético para o aprofundamento de pesquisas que levem em conta os conhecimentos tradicionais dos povos da região. “Há espaço para a geração de renda local, com respeito ao meio ambiente, e que poderá ser ampliado em escala nacional e global”, indica a pesquisa.
E Roraima faz parte dessa perspectiva de desenvolvimento pela bioeconomia na Amazônia. Segundo o gerente de Inovação e Sustentabilidade do Sebrae-RR, Lucas Wolkartte, sobretudo este ano, devido a COP 30, o apelo da bioeconomia e da região amazônica tem ganhado cada vez mais força, e com isso produtos deste setor econômico têm se destacado comercialmente, captando interesses e recursos do mercado externo.
“A biodiversidade de recursos naturais que temos no lavrado de Roraima favorece o desenvolvimento de negócios voltados para a bioeconomia, como cosméticos, óleos essenciais, produtos fitoterápicos e alimentícios. E temos ainda a riqueza cultural dos povos indígenas, que também traz a possibilidade de diversos tipos de artesanato que têm ganhado espaço no cenário nacional”, comentou Wolkartte.
Mas apesar desse reconhecido potencial, existem alguns “gargalos” para a comercialização de produtos de origem florestal, como os processos de regularização sanitária, exigidos para, por exemplo óleos, extratos, essências, que necessitam de estudos toxicológicos ou padrão técnico claro; e também a regulamentação para caso de exportação junto à Receita Federal e ao Ministério da Agricultura e Pecuária.
Para isso, Wolcartte informa que equipes do Sebrae oferecem um trabalho de orientação para que na parte fitossanitária os empreendedores e empreendedoras interessadas consigam se estruturar visando obter depósito de patente, um registro de marca, e o desenvolvimento de um POP (Procedimento Operacional Padrão) dos processos que desenvolvem.
Já na parte de exportação, segundo ele, o Sebrae Roraima oferta hoje de forma gratuita, um programa de qualificação para exportação, em parceria com a ApexBrasil, que é o Peiex. Nesse programa, empreendedores e empreendedoras recebem diversas orientações e capacitações para que tenham o entendimento e o preparo necessário para atingir mercados externos com os produtos que oferecem.
COP-30 – Com a aproximação da COP-30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025), que será realizada este ano no mês de novembro, em Belém, no Pará, o gerente de Inovação e Sustentabilidade do Sebrae-RR, Lucas Wolkartte, afirmou que as expectativas na área da bioeconomia para Roraima são positivas, diante do preparo que o empresariado local do setor já possui.
“Ao longo desses últimos três anos, o Sebrae tem desenvolvido o programa Inova Amazônia, que tem o intuito de fomentar os negócios da bioeconomia, a partir da estruturação e alavancagem destes negócios, por meio de capacitações e acesso a novos mercados. Um exemplo disso, são os eventos promovidos pelo Sebrae, como o Inova Amazônia Summit, que permite que estes empresários possam expor produtos e se conectar com todo o ecossistema e potenciais investidores”, explicou.

Ele destacou ainda que, o Sebrae conta também com produtos que auxiliam empreendedores e empreendedoras na jornada que percorrem nesse caminho da bioeconomia, como por exemplo, o Sebraetec de Patentes, que já ajudou empresas como a Savana Amazônica a conseguir a patente junto ao Inpi para os produtos que desenvolveu, garantindo segurança jurídica para a empresa.
“Nesse contexto, a nossa expectativa é que esses negócios que vêm se preparando ao longo destes anos com o Sebrae, consigam aproveitar todas as oportunidades que a COP vai gerar e já vem gerando neste ano”, projetou.
MULHERES – Para trabalhar barreiras específicas enfrentadas por mulheres empreendedoras nas cadeias de inovação, o Sebrae tem um programa exclusivo para mulheres empreendedoras, chamado Sebrae Delas. O objetivo é dar voz e oportunidades para que elas possam se capacitar, desenvolver e alcançar o crescimento dos negócios que possuem.
Também é possível, a partir do projeto de acesso ao crédito do Sebrae, obter com o Fampe (Fundo de Aval), 100% de garantia junto às instituições financeiras parceiras, para créditos tomados por empresas que são administradas por mulheres. E com isso, o Serviço oferta oito horas de consultorias de crédito gratuitas, com o foco em utilizar o recurso financeiro de forma consciente na empresa.
E para incentivar o empreendedorismo feminino, foi criado o prêmio Sebrae Mulher de Negócios. Em 2024, a vice-campeã nacional na categoria MEI (Micro Empreendedor Individual), foi a Val Bezerra, de Roraima, proprietária da Daval Alimentos Amazônicos, que comercializa pimentas feitas à base de insumos locais. “Ela fez parte do Programa Inova Amazônia, no Sebrae Roraima, e atualmente está no projeto Sebrae Delas. Hoje já alcançou porte empresarial ME [Micro Empreendedora], mostrando o crescimento profissional que conquistou”, comentou Lucas Wolcartte.




* Dicionário da Biodiversidade, Biotecnologia e Bioeconomia
