Aula Magna da UFRR abordará o planejamento de Boa Vista de Darcy Aleixo Derenusson

A Aula Magna do semestre 2016.2 da Universidade Federal de Roraima (UFRR) terá como tema “O Planejamento de Boa Vista”. O palestrante será o arquiteto Darcy Romero Derenusson, filho do engenheiro civil Darcy Aleixo Derenusson, responsável pelo Plano Urbanístico Radial de Boa Vista, na década de 1940.

A Aula Magna abre as atividades do semestre, será realizada às 18h do dia 29 de novembro, no Centro Amazônico de Fronteira (CAF). O reitor, Jefferson Fernandes do Nascimento explicou que o assunto foi escolhido em virtude da multidisciplinaridade e está relacionado aos 27 anos da UFRR que aborda o tema “Memória e Identidade”. Os alunos participantes receberão certificados de 2h, pela Pró-reitoria de Ensino e Graduação (Proeg). A inscrição será no local do evento. “Temos vários cursos com interesse nesse assunto urbanístico e da história de Boa Vista. Escolhemos esse tema pelo resgate da origem da cidade e da memória de sua construção, como forma de contribuir com a expansão da nossa capital na direção de planejamento do crescimento urbanístico da cidade. Além disso, resgatar a história é fundamental para que as instituições responsáveis conheçam o início para planejar o futuro de Boa Vista”, frisou o reitor.

Em 2016, Darcy Aleixo Derenusson completaria 100 anos. Como parte da programação serão lançados carimbo e selo dos Correios em comemoração ao centenário do engenheiro. A ação é coordenada pelo Instituto de Geociências (Igeo) da UFRR. O lançamento será às 9h, do dia 29, no Salão Nobre da Reitoria, campus Paricarana.

Histórico – O diretor do Instituto de Geociências (Igeo) e professor do Departamento de Geografia da UFRR, Antônio Veras realizou sua tese de doutorado com o tema “A produção do espaço urbano de Boa Vista”. Ele explicou como se deu o processo de expansão urbana da capital roraimense com a implantação do plano urbanístico radial concêntrico de Darcy Aleixo Derenusson. “Em 1943 Getúlio Vargas criou o Território Federal do Rio Branco e tinha interesse em transformar o único núcleo urbano da nossa Amazônia setentrional em uma cidade política administrativamente. Então Getúlio convidou o capitão Ene Garcez para ser o primeiro governador e colocou essa meta de implantar uma cidade”, disse o professor.

Conforme o pesquisador explicou, capitão Ene Garcez fez o convite ao engenheiro carioca Darcy Aleixo Derenusson para concorrer com sua empresa Riobrás a uma licitação. O objetivo era a construção de uma cidade administrativa, do ponto de vista geopolítico e estratégico. “Ele acabou ganhando a licitação, que teve a participação de outras três empresas. Na época custou 3.342 mil cruzeiros para fazer o plano urbanístico de Boa Vista”, falou.

“Ele veio a Boa Vista e passou 40 dias fazendo um levantamento socioeconômico. Também fez um levantamento populacional, onde verificou que a maioria das pessoas tinha algum tipo de doença, principalmente malária e verminoses, e ao mesmo tempo iniciou os processos topográficos da capital do Território para saber onde iria iniciar a cidade planejada que queriam implantar aqui”, frisou Veras, enfatizando que este foi o primeiro levantamento topográfico da capital roraimense.

Após isso, Derenusson retornou ao Rio de Janeiro e trouxe uma equipe para executar esse projeto. “O interessante desse plano dele, é que preservou a gênese da cidade da cidade de Boa Vista. Essa foi uma das exigências que ele fez ao ex-governador. Então ele preservou as construções existentes na beira do Rio Branco, como Prelazia, Igreja Matriz e algumas residências e começou a obra pelo Centro Cívico”, disse.

Entre os principais problemas enfrentados para execução do plano estavam a falta de material de construção e de mão de obra. “Então, ele implantou uma fábrica de manilhas e trouxe vários profissionais qualificados do Rio de Janeiro, São Paulo e Manaus, contribuindo também para a questão migratória do Estado”, falou Veras.

“A proposta do plano era que todas as ruas convergissem para o Centro Cívico. São dez radiais que convergiam para o Centro, que abrigava os poderes Legislativo, Judiciário e Executivo, e era onde aconteciam os grandes eventos do período”.

O professor Veras contou que o plano foi projetado para 50 anos. “Na década de 1980, quando houve o boom do garimpo, a cidade começou a inchar e hoje o plano urbanístico já não suporta mais, principalmente o fluxo do trânsito nos horários de pico. Por isso, é necessário ter um cuidado para transformar a região em patrimônio arquitetônico de Boa Vista”, destacou

Outra curiosidade sobre o plano, é a inspiração na arquitetura francesa. “Na década de 1940, a arquitetura brasileira recebia uma influência muito grande da francesa. Tínhamos como exemplo típico a cidade de Belo Horizonte que se assemelhava a cidade de Boa Vista, mas hoje ela já perdeu sua originalidade. Então esse modelo radial concêntrico é oriundo da arquitetura francesa”, disse.

O professor ressaltou ainda a relevância que o plano trouxe para a capital roraimense. “Esse plano tem uma importância muito grande para o Estado e, em particular, para a cidade de Boa Vista, pois é uma referência para os que chegam e para os que também moram aqui. Boa Vista é conhecida como a cidade planejada, a cidade do leque”, finalizou o professor Antonio Veras.

Fonte: Ascom UFRR