Thiago Chaves Bríglia é jornalista de formação. Mas admite: sua verdadeira paixão é mesmo o cinema. Pensando nisso, ele seguiu seu sonho até São Paulo, onde se formou em Direção Cinematográfica pela Academia Internacional de Cinema daquele estado graças a uma bolsa de estudos. O sonho, a princípio distante, de se tornar um cineasta de expressão nacional, ganha corpo diariamente.
Hoje, Thiago é o diretor e proprietário da Platô Filmes, produtora audiovisual especializada em filmes de ficção, documentários e institucionais, e é professor das disciplinas de Roteiro e Produção Audiovisual nos cursos de Publicidade e Propaganda e Design Gráfico do Centro Universitário Estácio da Amazônia. Mas para chegar a esse ponto precisou trilhar um árduo caminho, que passou pela produção de pequenos documentários, a pesquisa por prêmios e festivais.
O futuro profissional de um cineasta com DNA roraimense já foi motivo de crises existenciais, revela Thiago. Seu dilema era saber se realmente conseguiria viver da arte audiovisual no Extremo Norte do Brasil. “Hoje as coisas estão fluindo. Estamos no início da carreira. Apenas começando na arte cinematrográfica. Começando uma jornada na medida em que vai aprofundando, amadurecendo, as possibilidades de produzir conteúdo, cada vez maiores, mais organizados e com qualidade, aumentam”, afirma.
Antes de se formar em Jornalismo, em 2013, produziu “Vila-vintém: o olhar de quem vive”, contando a história dos pequenos produtores de tijolo às margens do Rio Branco, juntamente com dois colegas de faculdade. Já em 2014, produziu “Picuá”, documentário que aborda a vida de ex-garimpeiros que começam a praticar atividades sustentáveis, após o ciclo do diamante na Serra do Tepequém, em Amajari.
Suas primeiras obras foram ‘Nas trilhas de Makunaima’ e ‘Roraimeira – expressão amazônica’, pelos quais recebeu prêmios e a exibição dos filmes nas TVs Cultura, Brasil e Sesc TV, em âmbito nacional. Depois disso, ele gosta de destacar a obra Arqueiros, um documentário de 18 minutos produzido durante uma oficina de arquearia indígena realizada na comunidade de Vista Alegre, situada na zona Rural do município de Boa Vista. Thiago conta que o filme trata justamente dessa relação dos indígenas com a cultura urbana, mas não perdem sua matriz cultural, como a prática do arco e flecha. “Entrevistamos jovens e familiares e vamos percebendo que os moleques quando têm contato com arquearia é a mesma coisa que colocar uma bola nos pés de um moleque da favela. Está no sangue. O filme vai mostrando essa habilidade natural para o arco e fecha”, comenta. O projeto foi selecionado pelo projeto Amazônia das Artes do Sesc (Serviço Social do Comércio) e foi exibido em toda a Amazônia Legal e mais um estado convidado, o Piauí.
A veia jornalista-documentarista, como Thiago costuma definir seu feeling para os documentários, também despertou sua atenção para o descaminho de gasolina, comum na região da fronteira. O litro do combustível custa centavos de real, e essa realidade acabou levando brasileiros a tentar a sorte, transportando litros de gasolina de forma improvisada para venda clandestina na capital. “A gente convive com isso a partir do momento que vai a Pacaraima, vê os carros, ouve as histórias dos pampeiros, os caroteiros. Quis fazer um filme que marcasse do ponto de vista de uma família ligada a essa prática”, comenta.
Há cerca de um ano nasceu o curta-metragem Fronteira em Combustão, foi dirigido e roteirizado por Thiago, com a ajuda do Programa Amazônia Cultural, do Ministério da Cultura do Governo Federal. Conta a história de Gilberto, pai de família, desempregado, convidado pelo Riba, seu vizinho a “puxar gasolina” na fronteira. Claudia, a esposa, pede para ele não ir, mas a condição financeira adversa, o sustento do filho, o orgulho masculino, o faz embarcar nessa experiência e universo. “Como atento observador das questões sociais do nosso estado, vi que tinha um viés para uma narrativa ficcional muito rica. Cheguei a fazer um documentário curto antes contando a história de uma pessoa real que faz o contrabando. É uma experiência maravilhosa, imaginava que pudesse tiver uma ressonância positiva por que é uma situação muito atípica, específica da nossa fronteira, tem um apelo muito rico”, diz.
Recentemente, a obra ganhou o Prêmio Chico Mendes de Melhor Roteiro, durante a 14ª edição do Fest Cineamazônia, considerado o mais tadicional da região Norte do Brasil.
Thiago admite que as mostras competitivas de grande porte abrem portas para outras seleções em festivais internacionais, por exemplo. Por isso, ele já fez versões em outros idiomas para levar o filme para eventos na Europa e Cuba. “Estamos fazendo inscrições”, adianta.
O menino que nunca sonhou em ser cineasta, não cresceu assistindo a filmes e não se considera um cinéfilo apaixonado pela arte, diz que a paixão pela arte nasceu na faculdade fazendo documentários. “Me interessei em expressar os anseios da população em questões culturais, sociais. Percebi que estava mais para o cinema que para o jornalismo”, pondera. E as expectativas?! Muito boas, segundo Thiago Bríglia. “Acredito que Roraima tem cenário muito favorável, paisagem, aspectos sócio-culturais que merecem ser registrados e porque não por nós que vivemos essa realidade?!”, conclui o cineasta.
Sinopse Fronteira em Combustão:
No extremo Norte do Brasil, Gilberto está desempregado e seu vizinho Riba o convida para “puxar” gasolina da Venezuela. O negócio parece rentável, mas a família de Gilberto pressente o pior.
Ficha Técnica:
Direção e roteiro: Thiago Briglia
Direção de fotografia: João Lima e Jorge Macêdo
Direção de arte: Irmânio Sarmento
Direção de produção: Gersika Nascimento
Edição: Benjamin Mast
Finalização: Câmera Pró Films
Mixagem: Estúdio Parixara
Arte Gráfica: Lennon Uriel
Por Élissan Paula Rodrigues
Fotos: Divulgação