O aluno Marino Sales Soares Ingarikó, 21, da Comunidade Manalai, apresentou, na tarde desta terça-feira, dia 20, o relatório final de estágio do curso Técnico em Agropecuária integrado ao ensino médio. Com ele, agora são quatro indígenas ingaricós a se formar no Campus Amajari do Instituto Federal de Roraima.
Em 2014, os quatro alunos iniciaram o curso técnico, superando barreiras como quase cinco dias de viagem para chegarem ao campus, além do estudo na língua portuguesa, pois a língua materna deles é outra.
Durante a apresentação do relatório de estágio, o aluno destacou o que aprendeu durante os três anos de estudos, em especial nas aulas práticas, tais como arborização de pastagens; sistema de irrigação por aspersores; produção de mudas de capim elefante e amendoim forrageiro; lubrificação de máquinas e implementos agrícolas; construção de currais, entre outros serviços.
A banca de avaliação foi formada pela professora Camila Morais, pela pedagoga Luana Lobo e pelo professor Rafael Fiusa, que assumiu a orientação do aluno quase no final deste semestre. Ao final do trabalho, os avaliadores elogiaram o esforço do aluno em chegar até aquele momento e, principalmente, em enfrentar dificuldades como dias de viagens, estudo em língua portuguesa e aprendizado de práticas agrícolas que deverão ser aplicadas na sua comunidade. Indagado sobre o que aprendeu e que poderia desenvolver na comunidade Manalai, Marino falou da possibilidade de formação de pastagens, da utilização de máquinas agrícolas e da vacinação de ovinos e bovinos presentes na região.
Nas intervenções, Fiusa lembrou que, a partir de agora, o estudante tem um importante papel no incentivo às práticas agrícolas mais sustentáveis dentro da comunidade, a exemplo da utilização da compostagem em substituição aos fertilizantes industrializados, que, além de terem custo elevado, poderiam encarecer muito os projetos da região.
Além disso, Fiusa frisou a necessidade de plantar sem derrubar a floresta e evitar queimadas. “O agricultor ainda se engana achando que queimar é a melhor alternativa. Pode até ser no primeiro momento, mas, com o passar do tempo, o solo vai perdendo fertilidade e a vida microbiana”, explicou.
Além de Marino, conseguiram concluir o curso Civaldo Arceno Rafael, 19, da Comunidade Mapaé; Civildo Alfredo Messias, 21, da Serra do Sol; e Lêvi Souza Semeão, 25, de Kumaipá – localidades do Município do Uiramutã, na Terra Indígena Raposa-Serra do Sol.
INÍCIO – O diretor-geral do CAM, George Sterfson Barros, explica que, em 2013, durante uma assembleia do Conselho do Povo Indígena Ingarikó (Coping), surgiu a demanda por cursos profissionalizantes dentro da região, que é de difícil acesso, mas, por questões de infraestrutura e logística inviabilizarem a implementação, o IFRR garantiu, como medida emergencial, quatro vagas para indígenas ingaricó, incluindo alimentação e alojamento durante todo o curso.
Segundo Barros, o grande diferencial nesse processo foi a indicação dos participantes. “A própria comunidade indicou os alunos, que, depois de formados, devem passar um ano nas comunidades desenvolvendo atividades agrícolas, repassando o que aprenderam na sala de aula e nas práticas do curso”, relatou.
Fonte: Ascom IFRR/ CCS Campus Amajari