Anônimos oferecem esperança de dias melhores a animais de rua

Valentina, como o próprio nome diz, foi valente até os últimos dias de vida. Encontrada em uma lixeira em frente a uma Unidade Penitenciária do Estado, cercada por urubus, magra e doente, foi resgatada pelo Grupo de Proteção Animal de Rua de Roraima (GPARR) e levada a uma clínica veterinária para os procedimentos iniciais.

 

A cadela, segundo denúncias que chegaram aos membros do GPARR, era abusada por detentos diariamente. Foram 60 dias de luta para que as doenças contraídas pelo animal fossem eliminadas, mas o empenho das equipes, medicamentos e o carinho não foram suficientes e Valentina morreu. “Encontramos diversos casos que mexem com a gente, mas esse é o que me dói até hoje”, explica a coordenadora do Grupo, Sílvia Lira.

Diversos exames foram feitos, mas nenhum diagnóstico final para a situação de Valentina. “Eu mandava dar banho nela, passeávamos todos os dias, mas ela não reagia, muito magra, diarreia forte, fraca. Chorei muito quando ela se foi”, se emociona ao recordar de que até havia uma pessoa disposta a adotar a cadela.

Mas não só de finais tristes vivem os cães de rua. ‘Guerreiro’, encontrado com fratura exposta em uma das patas e com parte da pele comida por insetos, passou nove meses internado e, recentemente, ganhou um lar.

Esses são alguns dos diversos casos com que voluntários de Organizações Não Governamentais (ONGs) se deparam diariamente pelas ruas de Boa Vista. Animais que nasceram nas ruas ou foram abandonados por ‘tutores’ acabam sendo responsáveis por acidentes, principalmente com motociclistas. O EducaRR conta um pouco da história de três instituições que trabalham com essa finalidade, sem apoio governamental, mas com o empenho de voluntários e empresas parceiras.

O GPARR funciona no Estado há três anos. Nesse tempo, resgatou, abrigou e inseriu em lares diversos animais, entre cães e gatos. Com apoio de seguidores, colaboradores e voluntários dispostos a ajudar como podem, enfrentam situações similares aos outros grupos, dívidas que chegam a R$ 18 mil em clínicas veterinárias. “Temos dificuldade em encontrar voluntários e depois dessa dificuldade, vem a dívida imensa na clínica”, explica Sílvia. Os custos incluem cirurgias, remédios, consultas, castrações e internações. Segundo ela, esse déficit se arrasta desde o ano passado. O Grupo possui, atualmente, 25 animais no abrigo, além dos que são alimentados na rua. “Criei esse grupo com uma amiga para ajudarmos os animais”, diz. Infelizmente, os resgastes estão suspensos temporariamente até a amortização da dívida.

 

Para ajudar a diminuir a dívida, os interessados podem contribuir com qualquer quantia direto na clínica Vet Center, na avenida Capitão Júlio Bezerra, no bairro 31 de Março. O GPARR realiza constantemente bazares e aceita a colaboração com produtos para venda, assim como medicamentos e rações para alimentar os animais. Os pontos para coleta, além da própria clínica, são a Agronil e Pet Fashion, estabelecimentos que funcionam na avenida Capitão Júlio Bezerra. No início do mês, o Grupo participou de uma feira de adoção no Roraima Garden Shopping, zona Leste de Boa Vista, com a venda de chaveiros, caminhas recicláveis e distribuiu informações sobre o trabalho desenvolvido.

A preocupação agora é outra. Com a chegada das chuvas em Roraima, a casa onde funciona o abrigo alagou e o GPARR precisa de um espaço amplo para receber os animais. Os bairros de preferência, até mesmo para facilitar o deslocamento dos voluntários, são Jardim Floresta, Caimbé, Liberdade e Pricumã. “Até o Santa Tereza dá pra gente pegar”, comenta Sílvia.

Quem se interessar em colaborar com o Grupo pode encaminhar mensagem pelas redes sociais, como o Facebook e o Instagran. Basta procurar por Gpar-RR Grupo de Proteção de Animais de Rua de Roraima.

Casal de cachorros abandonados sensibilizou grupo a criar a ARCA BV

Movidos pela intenção de ajudar um casal de cachorros que rondava o cursinho preparatório onde estudavam no Centro da cidade, jovens se uniram e fundaram há três anos a ARCA Boa Vista, que funciona com resgate, principalmente de casos extremos. “Levamos para clínica, fazemos um hemograma e vemos quais as necessidades, o que ele vai precisar”, explica a coordenadora Katherine Amorim.

E só acontece isso porque clínicas parceiras trabalham lado a lado com os membros da ONG.  Ao sair do ambulatório, geralmente castrado, o resgatado segue para o abrigo e é colocado para adoção. Para levar o animal, os futuros pretendentes a tutores passam por uma entrevista preliminar e tem o ambiente visitado. Aprovado, o dono assina um termo de responsabilidade. “Temos tantas dificuldades em resgatar um animal, a gente tem dívidas de R$ 7 mil, por isso temos esse acompanhamento”, justifica. Venda de doces e de rifas são feitas para reduzir o déficit.

O grupo aposta nas redes sociais para disseminar informações sobre animais à disposição e as necessidades. O abrigo funciona em uma casa alugada, e o custo de R$ 500,00 e é dividido entre os membros do grupo.

 

O começo não foi fácil. Sem experiência, apenas com a vontade de ajudar, os animais eram colocados no abrigo, mas eles começavam a morrer. “Não tínhamos a ideia de como era, mas depois de muitos erros, aprendemos”. Onze voluntários revezam no auxílio, numa espécie de escala, em três turnos. Limpam, alimentam, medicam e abastecem os reservatórios com água. A coordenação, composta por seis membros, é a responsável por administrar as contas, as doações e as redes sociais. Há ainda um grupo com 30 voluntários que ajuda financeiramente a ARCA, com lares temporários ou com a disponibilização de ração e medicamentos.

Nove animais aguardam adoção. Por causa da dívida nas clínicas, tem se tornado impossível atender novos casos. Segundo Katherine, mesmo assim a ARCA contribui de outras maneiras. “Muitas pessoas conversam com a gente sobre resgate de animais, a gente liga para alguns veterinários, pedimos a consulta, conseguimos vacinas mais em conta, mas a gente faz a nossa parte”, explica. Ela agradece a sensibilidade das pessoas quando pedem ajuda. “A nossa maior dificuldade é, sem dúvidas, financeira. A gente não recebe ajuda [governamental], nos viramos nos trinta, graças a Deus a gente recebe muitas doações de ração, medicamento e quando temos casos extremos, as pessoas se sensibilizam”, esclarece de que todo apoio é bem vindo, seja com remédios, dinheiro ou alimentação.

Os contatos da ARCA Boa Vista são 98118-9955, 99126-4910 e 99127-1691. Na página oficial no Facebook está o número de duas contas bancárias para depósito ou, quem desejar, pode amortizar a dívida nas clínicas Emporium Animal ou Vet Center com qualquer quantia.

Yawara é uma das mais antigas ONGs de Roraima

A Yawara – Proteção Animal atua há mais de 10 anos no Estado. Com trabalho ‘formiguinha’, como dizem seus fundadores, a princípio não havia ajuda, realidade que foi mudada com o passar do tempo. “Hoje temos um pouco mais de visibilidade, de voluntários e de contribuintes com valores e com custeio de tratamentos”, conta a coordenadora, Débora Almeida.

A ONG trabalha com ações de resgate e recuperação, que incluem cirurgias, medicamentos e castração, até chegar ao futuro dono com o processo de adoção intermediado pela Yawara. As entrevistas servem como um termômetro de como o animal será tratado e para passar no teste, os interessados devem preencher requisitos determinados pela Organização.

São 25 animais no abrigo e mais 10 em lares temporários. As contas em clínicas e o espaço impedem o atendimento de mais animais. “O dinheiro e o número de voluntários é limitado, trabalhamos com todos os esforços mesmo”, comenta. São 40 voluntários distribuídos em turnos e mesmo esse quantitativo, é insuficiente para a demanda. “Não temos recursos nenhum de Governo, de Prefeitura, de nada e os voluntários que simpatizam com a causa contribuem mensalmente, mas são pouquíssimos”, diz.

Para Débora, o trabalho voluntário acontece por amor de pessoas anônimas, que se doam por uma causa e, sem esperar recompensas, visam à recuperação de um ser vivo de quatro patas. “Tentam minimizar um pouco o sofrimento de alguns animais”, complementa.

Ações como brechós, pedágios em avenidas da cidade e venda de doces, são feitas para quitar ou, pelo menos tentar, diminuir as contas. “Temos clínicas parceiras que nos ajudam de alguma forma, principalmente quando deixam o animal ser atendido e a conta fica em aberto”, lembra. Eles pensam, em breve, na possibilidade de disponibilizar um telefone fixo para contato com a ONG e um ponto de internet. No momento, apenas telefones celulares, como o da Débora (98114-6613) e as redes sociais são os canais de acesso.

Shopping realiza Feira de Adoção aos domingos

O Roraima Garden Shopping, em parceria com a RADAR, GPARR, ARCA e Yawara, realiza entre os dias 23 e 30 de abril, a partir das 16h, a primeira Feira de Adoção Garden. Neste domingo (23), será a vez da ARCA mostrar aos frequentadores do centro comercial os trabalhos desenvolvidos e os animais disponíveis para adoção responsável.

Segundo Katherine Amorim, serão quatro animais disponíveis. E para angariar fundos, terá venda de rifa beneficente para o sorteio de um ensaio fotográfico com a fotógrafa Dani Oliveira, ao custo de R$ 3,00.  Produtos como bolo de pote, torta salgada, entre outros, estarão disponíveis para venda. O dinheiro será revertido para sanar dívidas com clínicas.

No dia 30, a Yawara levará dois animais e itens para venda. “A proposta é levar alguns animais que estão no abrigo hoje para pessoas se interessarem em interagir como nossos trabalhos”, comentou Débora Almeida. Serão distribuídos informativos, entrevistas com candidatos a tutores e apresentação de fotos em vídeo. “Será um trabalho de divulgação, de visibilidade”, resumiu.

Por Yasmin Guedes

Equipe Educarr