O pesquisador e palestrante sobre violência doméstica, Daniel Guimarães, está em Roraima há 25 dias colhendo dados sobre o trabalho realizado pela Procuradoria Especial da Mulher da Assembleia Legislativa, desenvolvido por meio do Centro Humanitário de Apoio a Mulher (CHAME). Guimarães tem acompanhado e catalogado as atividades de proteção e combate à violência contra mulher e todo esse material, segundo ele, será transformado em um livro sobre ‘crimes de ódio e casos de impunidade em Roraima’, onde serão relatados, com a proteção da identidade, os casos atendidos pelo Chame.
O pesquisador explica ainda que a vinda a Roraima foi motivada principalmente pela necessidade de entender como um dos menores estados do Brasil, apresenta índices tão altos e alarmantes de violência contra mulher. “Aqui tem um alto índice de Feminicídio [assassinato de mulheres ou crime de ódio baseado no gênero]. Em geral, o país registra quatro assassinatos a cada 100 mil mulheres. Em Roraima, já atingimos 12 para cada 100 mil. Então, a pesquisa é basicamente para descobrir o que leva a esses crimes de ódio, motivados possivelmente por ‘intolerância e machismo’, que tem sido o combustível desses assassinatos”, detalhou.
Ele fala também que o estudo tem como amostra principal o trabalho que o CHAME realiza na sociedade roraimense. “O Centro é uma ferramenta importantíssima de combate, prevenção e conscientização sobre a violência doméstica, atrelado à divulgação da lei Maria da Penha. Hoje, posso dizer como pesquisador que o CHAME é fundamental”, completou Guimarães.
Segundo dados que ele já catalogou, o estado possui falhas no combate à violência contra mulher. “Existem mais de 10 mil boletins de ocorrência, mil processos de violência contra mulher tramitando no Tribunal de Justiça e precisaria uma força tarefa para levar esses casos a terem uma solução”, afirmou.
A procuradora especial da mulher, deputada Lenir Rodrigues (PPS), acrescenta que a pesquisa de Daniel Guimarães, que posteriormente será transformada em livro, é uma parceria importante na militância do combate violência contra mulher em Roraima.
“Os dados, quando catalogados e transformados em publicação, poderão, no futuro, subsidiar as políticas públicas que serão desenvolvidas para o enfrentamento à violência contra mulher”, analisou.
Mortes de mulheres – Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgados em agosto deste ano, o número de assassinatos chega a 4,8 para cada 100 mil mulheres. O Mapa da Violência de 2015 aponta que, entre 1980 e 2013, 106.093 pessoas morreram por sua condição de ser mulher. As mulheres negras são ainda mais violentadas. Apenas entre 2003 e 2013, houve aumento de 54% no registro de mortes, passando de 1.864 para 2.875 nesse período. Muitas vezes, são os próprios familiares (50,3%) ou parceiros/ex-parceiros (33,2%) os que cometem os assassinatos.
O Chame – É um serviço da Assembleia Legislativa do Estado de Roraima coordenado pela Procuradoria Especial da Mulher. Tem a missão de promover gratuitamente, acompanhamento jurídico, psicológico e social da mulher e da família vítimas de
violência doméstica. Possui um canal direito com as vítimas por meio do Zap Chame: 98402-0502, que recebe mensagens enviadas por meio do aplicativo WhatsApp, 24 horas por dia, incluindo domingos e feriados. Mulheres de todo o Estado e de outros lugares do Brasil podem entrar em contato com os técnicos do Centro. O CHAME funciona na rua Coronel Pinto, 524, Centro.
Fonte: SupCom ALERR