Ronaldo Mota*
O chamado modelo dos cinco grandes fatores socioemocionais (em inglês, “The Big Five”) é fruto da síntese de um conjunto de abordagens e de intensos debates entre especialistas na tentativa de investigar alguns sofisticados aspectos do comportamento humano. Entre os educadores contemporâneos, há uma forte tendência de associar tais fatores socioemocionais às habilidades metacognitivas, as quais, em adição aos relevantes elementos cognitivos tradicionais, interferem diretamente nos processos de aprendizagem. Certamente, trata-se de tema complexo e polêmico, dada ser ousada e pretensiosa a missão de construir um modelo simples que seja, ao mesmo tempo, sintético e abrangente.
Uma taxonomia razoavelmente bem-aceita na comunidade de pesquisadores envolve, pelo menos, cinco principais fatores socioemocionais: 1. Afetividade e Compaixão; 2. Autocontrole e Foco; 3. Estabilidade Emocional; 4. Engajamento e Entusiasmo; e 5. Abertura para Experiências. Cada um deles influenciará, cada qual na sua forma peculiar, as seguintes habilidades gerais: facilidade para adquirir novos conhecimentos e aplicá-los na prática, capacidade de resolver problemas complexos ou abstratos, adaptabilidade, originalidade, carisma, colaboração em grupo, curiosidade, determinação, disciplina, empatia, engajamento, disposição a inovar, senso de justiça, sociabilidade, liderança, disposição à negociação, tolerância, otimismo, perseverança, resiliência, hospitalidade, capacidade de expressão em público, autocontrole etc. Tais características, bem como outras similares, são assumidas como sendo, cada vez mais, indispensáveis no mundo atual. No entanto, educacionalmente, ainda somos principiantes no que diz respeito a sabermos exatamente como medir e promover essas características socioemocionais.
O fator Afetividade e Compaixão é assumido como estando associado a elementos como colaboração, cuidado com os demais, gentileza, respeito, empatia, sentimento de justiça, confiança, gratidão, capacidade de perdoar, busca por harmonia e promoção de atitudes de inclusão e de justiça em geral, entre outros. Acredita-se que a partir do desenvolvimento de tais características seja possível aumentar a capacidade de compreender o outro, por se colocar na posição do outro, e, a partir disso, fazer algo em função do outro. Desta forma, promovemos este predicado amplificando o respeito pelos demais, tratando a todos com polidez, de acordo com noções claras de confiança, tolerância e de sentimento de vida em comunidade.
Autocontrole e foco envolvem características imprescindíveis para garantir a qualidade do planejamento e da execução de missões de diversas naturezas. A elas se associam elementos de autodisciplina, foco e iniciativa nas tarefas que aumentam eficiência, eficácia e produtividade em todas as circunstâncias. Perseverança e controle racional dos esforços estão relacionados à capacidade de concentrar, evitando distrações e conseguindo completar, com sucesso, as tarefas propostas, individual ou coletivamente. As facilidades em ampliar o nível de consciência sobre si mesmo e acerca do ambiente ao redor permitem ter mais domínio sobre os mecanismos e contextos por meio dos quais se aprende, aumentando assim a habilidade de aprender a aprender continuamente. Esta é uma das características essências e mais desejadas no educando atual, especialmente no cenário de educação permanente ao longo de toda a vida. Habilidades de organização, gestão eficiente do tempo e clareza de propósitos, evitando procrastinações, são críticas para execução dos planos com qualidade e dentro dos cronogramas previstos.
No que diz respeito à Estabilidade Emocional, esta é relacionada, principalmente, com autoconfiança, autoestima, determinação e sabedoria em lidar com problemas. Estas características são reforçadas naqueles que desfrutam de alegria, otimismo e tranquilidade. Um traço marcante deste fator é a tendência a ser sempre positivo consigo mesmo, ainda que em situações de falhas momentâneas ou de derrotas parciais. O controle emocional permite estimular aspectos de resiliência, combatendo o stress, transformando eventuais “tombos” em oportunidades de aquisição de sabedoria e acúmulos de experiências. São elementos fundamentais para o prosseguimento às fases seguintes em direção ao cumprimento das missões e afirmação positiva da própria personalidade. Uma característica marcante no desenvolvimento deste fator é a percepção de que tanto as situações como as pessoas estão em permanente movimento e transformação. Sendo assim, podemos sempre aprimorar, consequentemente, tornando possível, com serenidade, aprender e crescer de forma contínua.
Acerca de Engajamento e Entusiasmo, sabemos que a capacidade de criar e aprofundar as mais variadas conexões sociais são elementos imprescindíveis na execução de tarefas de natureza complexa. Está incluída nos predicados exigidos a facilidade de se comunicar em público e de expressar, com clareza, opiniões e pontos de vista. Desta forma, assim agindo, indivíduos com essas características conseguem influenciar e convencer os demais, fruto da paixão e entusiasmo pelos temas em debate, agregado à capacidade de contagiar positivamente os demais membros da equipe na consecução de tarefas. Em geral, aqueles com tais características têm acentuado bom-humor e são espontâneos, facilitando liderar pessoas, transformando-se em porta-vozes de opiniões ou demandas. Em resumo, findam logrando sucesso em suas empreitadas por se sentirem confortáveis no trato geral de qualquer tema, com público de qualquer dimensão e em múltiplos contextos.
O fator Abertura a Experiências está associado a comportamentos como curiosidade intelectual, receptividade a novas ideias, tendência para promoção de inovações, criatividade, senso estético e gosto pela harmonia, espiritualidade, marcante conexão com a natureza, motivação pelo novo e desejo de inventividade e apreço pela autenticidade. São pessoas com mentes abertas que aprendem com eventuais erros e obstáculos, que se caracterizam pela vocação à aprendizagem independente, baseada em estímulos à autonomia e emancipação, e pela facilidade em lidar com situações novas, extraindo das mesmas experiências as mais diversas.
Em suma, a taxonomia apresentada e seus detalhamentos não pretendem ser definitivos. Mas, certamente, podem ser úteis, como pontos de partida, no trato deste complexo tema. O passo estratégico seguinte é a construção sistemática de instrumentos de mensuração desses fatores socioemocionais, bem como elencar ações e abordagens educacionais para o estímulo dessas e de outras características em grupos de pessoas ou em cada indivíduo.
*Chanceler da Estácio