A geração “nem, nem” e os profissionais “des, des”

Gilberto Alvarez*

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2017 o país tinha tinha 11,16 milhões de pessoas de 15 a 29 anos que não estudavam e nem trabalhavam,619 mil a mais do que em 2016. Esse contingente representava 23% da população dessa faixa etária em 2017. Essa proporção era menor no ano anterior, de 21,8%. Jovens que não encontram espaço no mercado de trabalho, não demonstram interesse em procurar emprego e também não querem saber de continuar a estudar. Um dado alarmante, que revela o tamanho da bomba-relógio que ameaça o futuro do Brasil.

São milhões de jovens chamados “nem, nem, nem”, que nem estudam, nem trabalham e nem procuram emprego. Num cenário de baixo desemprego e de economia em expansão, esta é uma parcela importante de brasileiros que não está participando do desenvolvimento experimentado nos últimos anos.

Além disso, a escolaridade foi vista como fator primordial para a participação nas atividades econômicas do País, ou seja, quanto maior a escolaridade dos pais, maior a frequência do jovem na escola. Isso explica a falta de interesse, pois o grupo que nem trabalha e nem estuda mora com os pais e acaba tendo como referência alguém que não deu continuidade nos estudos.

O fato é: os jovens precisam ser estimulados e orientados. Como não encontram estímulo em casa, a escola passa a ter o papel crucial de ajudá-los nesta busca por um caminho a seguir. Acontece que ainda não somos exemplos no quesito educação e o grande referencial da sala de aula é o professor.

O professor tem um papel fundamental. É preciso qualificá-lo, dar-lhe condições pedagógicas e melhorar substancialmente sua remuneração. Um professor bem preparado e motivado é meio caminho andado para despertar no aluno o desejo por aprender, participar da sociedade e exercer seu papel de cidadão. Além disso, são necessários investimentos maciços em educação pública como um todo, desde a primeira infância, passando pelo ensino fundamental e médio.

Temos uma juventude sedenta por mudança, com enorme potencial para transformar o Brasil, fazer avançar a democracia e reduzir a desigualdade social. Não podemos permitir que ela se imobilize, se sinta desmotivada por não conseguir visualizar o caminho que deve seguir. Caso contrário, os milhões de jovens “nem, nem” de hoje, serão certamente os profissionais desmotivados e despreparados — “des, des” — de amanhã.

* Gilberto Alvarez é diretor executivo do Cursinho da Poli.