Barreto, o encantador de passarinhos do bairro São Pedro

Diariamente, quem passa pelo cruzamento entre as avenidas Getúlio Vargas e Major Williams, no bairro São Pedro, em Boa Vista, se surpreende com um espetáculo protagonizado por dezenas de canários e tangarás. Os pequenos pássaros promovem verdadeiras revoadas que chamam a atenção de pedestres, ciclistas e até motoristas que passam pela casa de esquina em que mora o borracheiro Eziquiel Alves Barreto, o seu Barreto. Eles brincam na água, comem e voam numa espécie de balé nos galhos de uma pequena árvore que fica na calçada.

img_0394Aos 63 anos, todos vividos na mesma casa, o roraimense que nasceu e se criou no bairro próximo às margens do Rio Branco e, talvez por isso, foi pescador durante toda sua vida, vendeu passarinhos por alguns anos, entre as décadas de 70 e 80. Ele conta que suas “especialidades”, à época, eram curiós e patativas. Naquele tempo, a Lei de Crimes Ambientais não estava em vigor, e não havia empecilhos para as “encomendas”.

Barreto sempre tinha gaiolas em casa e costumava colocar redes próprias para capturar passarinhos nas proximidades do rio Caçari que, à época, não era habitada. “Eu vivi uma época só da venda dos passarinhos. Não tinha opção de trabalho naquela época”, comenta.

Foi um Carnaval que mudou a vida de Barreto. Ele foi a uma festa na sede do clube Rio Branco, na avenida Nossa Senhora da Consolata esquina com a rua Alfredo Cruz, e pulou o muro para não pagar a entrada. Foi pego pelos seguranças e passou quatro dias preso em uma delegacia. “Quando estava preso me arrependi muito de pegar passarinhos e mantê-los nas gaiolas. Soltei todos quando cheguei a casa e nunca mais prendi nenhum”, conta.

Desde então, Barreto mantêm comedouros para os bichos na área externa da casa onde vive. Gasta, conforme ele, uma média de 50 quilos de xerém, como é conhecido o arroz pilado, e alimento preferido dos passarinhos do seu Barreto. “São mais ou menos uns R$43 por mês. Como recebo diariamente na borracharia, não pesa e eles me fazem feliz. Antes criava eles presos, mas agora gosto deles soltos”, diz.

Ele admite já ter recebido proposta de pessoas para prender novamente os passarinhos, já que a quantidade de visitantes na esquina movimentada próxima ao Centro da cidade chama realmente a atenção, mas descarta veementemente. “Nunca mais vou prender eles”, responde.

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Por Élissan Paula Rodrigues