Desafios do ensino médio pós-reforma

Por Gilberto Giusepone (*)

Agora que a reforma do ensino médio foi aprovada e que passará a vigorar já em 2018, precisamos articular um amplo repertório de análises para nortear o debate e traçar estratégiasdaqui para a frente.

A tramitação da reforma deu-se de maneira inadequada quanto à forma, pois veio à luz por meio de uma Medida Provisória em vez de um Projeto de Lei; antidemocrática, pois excluiu do debate professores e pesquisadores da educação; e inconsistente, pois em nome da necessária demanda de discutir e reformar o ensino médio produziu-se um acelerado processo de descaracterização das ciências humanas na formação do jovem. Dessa maneira, recolocou o tema da conexão com a educação profissionalizante, retomando imperfeições criticadas e enfrentadas energicamente pelos educadores já década de 1990.

Essa situação exige atenção ao tema da flexibilização, que é um dos motes da nova arquitetura do ensino médio.

Se por um lado as escolas serão chamadas a oferecer diferentes percursos formativos, por outro lado será necessário ancorar o leque de possibilidades em sólidos projetos pedagógicos sendo, desde já, insuficiente afirmar que a base nacional curricular tudo suprirá ou tudo indicará.

Foi “por dentro” do tema flexibilização que questões bastante controversas e inconsistentes despontaram, como a presença do professor não formado, mas com “notório saber”, e foi em nome da busca por mais espaço curricular que as disciplinas filosofia, sociologia, artes e educação física por pouco não deixaram de existir nos domínios do ensino médio, ainda que tenham permanecido sob a incômoda suspeita da descaracterização.

A reforma tem seu ponto estrutural centrado no tema da escola em tempo integral.

Trata-se de uma questão que doravante exigirá cuidadoso debate, pois não se trata de simplesmente ampliar jornadas de permanência nas instituições escolares.

Trata-se, isto sim, de conjugar mais tempo para uma formação mais sólida, o que não quer dizer o mesmo que simplesmente “ocupar o tempo” com mais atividades.

Novamente a questão do projeto pedagógico se mostra inadiável. Mas a viabilidade da produção e implementação de projetos pedagógicos depende de agentes educacionais que potencialmente podem reagir à reforma manifestando impossibilidade de corresponder ao leque aberto de novas expectativas, principalmente gestores estaduais e municipais.

Se o projeto pedagógico se mostra imensamente necessário, cabe acrescentar aos debates o tema da formação de professores para o ensino médio. Sem conectar ambas as dimensões, corremos o sério risco de retroceder décadas e aprofundar problemas em detrimento da juventude que, no ensino médio, se prepara para o mundo universitário e para o mundo do trabalho e, por que não?, para o exercício da cidadania.

(*) Diretor do Cursinho da Poli e presidente da Fundação PoliSaber.