DIA DO PROFESSOR INDÍGENA – Data é marco de várias lutas para valorização e reconhecimento, diz professora

Há 14 anos, acontecia na vida de Léia da Silva Ramos a primeira experiência em sala de aula, na comunidade indígena Araçá da Serra, em Normandia. Ela, da etnia Macuxi, desde então ensina crianças e adolescentes da região com as disciplinas de História, Geografia, Filosofia e Sociologia.

Em 2005, iniciou pela Universidade Federal de Roraima (UFRR), por meio do Instituto Insikiran, o curso de Licenciatura Intercultural e hoje é doutoranda em Antropologia Cultural. No dia 28 de julho, Roraima deve celebrar pela primeira vez o Dia Estadual do Professor Indígena, por conta da lei 1.180/17, de autoria da deputada Lenir Rodrigues (PPS), um reconhecimento pelos trabalhos desenvolvidos por diversos profissionais na capital e do interior do Estado.

A rotina de Léia é dividida entre Boa Vista e a localidade onde vive a família. Na graduação, aproveitava os sábados, domingos, feriados e férias escolares para cursar a Licenciatura, o que serviu como troca de experiências com membros de outros pólos, além do Macuxi. “Venho trabalhando com essa diversidade, de entender outros povos, tanto indígena, quanto não indígena, pra minha comunidade”, disse ao revelar que ser professor indígena é “enfrentar diversos desafios, principalmente na relação de teorias e a tradição dos povos das comunidades”.

E ela não foi a única a optar a docência em casa. Dois irmãos, primos e tios também escolheram lecionar. “Sempre trocamos ideias para fazer uma escola diferenciada, bilingue, intercultural, que é o nosso potencial para entender outras culturas”, frisou. Ela recordou que o pai foi professor na mesma comunidade e, mesmo sem o estudo necessário, ajudou a alfabetizar muitas pessoas e fez parte de movimentos sociais junto aos tuxauas.

Para ela, é importante para o professor procurar aprimorar conhecimentos, buscar qualificação e integralizar todas as culturas. Léia acredita que hoje em dia haja a necessidade de resgatar, valorizar e revitalizar a cultura indígena por meio da educação. “Temos que comemorar porque é uma data que vai ficar marcada para nós professores indígenas. Temos a nossa luta de vários anos pelo reconhecida, visibilidade pra sociedade”, contou.

Destacou ainda a atuação da professora macuxi Natalina Mecias, homenageada com a escolha do dia 28 de julho para a celebração.  “É uma das pessoas que sempre lutou pelas causas indígenas, pelos movimentos sociais, valorização da língua materna, das nossas histórias, das nossas vivências e sempre ajudou”, frisou.

A deputada Lenir Rodrigues defendeu a data como uma maneira de valorizar a memória de todos os componentes deste processo evolutivo na Educação. “A data, inserida no Calendário Oficial de Eventos, é um momento de reflexão, ações e solenidades voltadas a este público específico”, disse que salientar que “a lei tem a importância de mostrar que o professor indígena está numa caminhada diferenciada de formação e atuação para preservação da cultura original nas comunidades”.

Ela explicou que a homenagem a Natalina é para enaltecer todo trabalho dedicado a mostrar a importância da educação indígena diferenciada, específica, bilíngue, intercultural e comunitária.

Entre os sacrifícios e vitórias, falou Lenir, está o magistério, a criação do Instituto Insikiran, na UFRR, a implantação de escolas reconhecidas e específicas, fortalecimento da Língua Materna por parte da Educação, os Centros Regionais e a formação continuada em universidades públicas e privadas no Estado. “Esse destaque de Roraima dá para todo o Brasil um exemplo, que em todo o Estado de Roraima tem a carreira do professor indígena e isso é um destaque de luta e exemplo para todo o país e o Mundo”, completou.

Números – Dados do Censo Escolar 2016, fornecidos pela Secretaria Estadual de Educação e Desportos (SEED), apontam a existência de 1.525 professores indígenas em todo Estado, divididos em 257 escolas específicas e 15.188 estudantes em várias comunidades.

Na Capital, segundo a Prefeitura de Boa Vista, 12 escolas municipais estão instaladas em 12 comunidades indígenas, em cada uma delas há um professor para atuar com o ensino de língua materna daquela região.

Fonte: SupCom ALERR