Pai e mãe retomaram estudos em 2016. O filho mais novo deu continuação e a filha, que tinha dado uma pausa, viu toda a família estudando e resolveu reiniciar em 2017
Todos acabaram optando ainda pelo mesmo curso, Técnico em Serviços Públicos, para tentar carreira como concursados no setor governamental
“É muito bom ter toda a família unida assim em torno de algo tão bom, que é a educação”, esse é o depoimento de Ana Melo, que há anos havia parado de estudar, mas ao ver filho e marido matriculados no CBVZO (Campus Boa Vista Zona Oeste), do IFRR (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Roraima), resolveu tentar dar continuidade à vida de estudos.
O marido, Silvio Sanches da Silva, se orgulha da história e relata como toda família se uniu no propósito do aprendizado. “Soubemos do seletivo destinado à população da zona oeste e ficamos muito animados com a oportunidade que nosso filho Mannasses poderia ter em uma instituição federal de referência em todo o País, que é o Instituto Federal de Roraima, e com isso ter um caminho melhor de preparo para o ensino superior e a carreira futura.
“Quando fui fazer a inscrição dele, o professor Hudson Oliveira, do CBVZO, estava no momento e me perguntou: “Por que o senhor não se inscreve também e tenta o seletivo?” Na hora, eu respondi: “Não! Já estou velho”. Mas ele disse: “Que isso?! Sempre é tempo de aprender”. Isso serviu de estímulo para mim e, depois que conseguimos aprovação em Serviços Públicos, ele [Mannasses] no ensino integrado e eu no subsequente, toda a família se contagiou, pois percebeu que era possível ainda melhorar por meio da educação”, relatou.
A terceira a voltar a trilhar o caminho da formação foi a mãe, Ana Melo, que primeiro fez um curso FIC (Formação Inicial Continuada) de Auxiliar Administrativo no CBVZO. Ela gostou tanto que se inscreveu no seletivo para o curso técnico subsequente, também em Serviços Públicos, e atualmente comemora os avanços que a família vem alcançando.
“Deu para perceber inclusive que, depois que começamos todos a estudar, o rendimento do nosso filho mais novo, o Mannasses, começou a melhorar na escola. Estou muito mais feliz agora com a entrada também da nossa filha, Silviane, nesse caminho importante para a vida dela”, declarou.
“Depois que todos nós começamos a estudar, tudo melhorou na nossa família, e agora ninguém quer mais parar”, assim definiu Silviane Melo o clima que contagiou os pais, ela e o irmão ao ingressarem no Campus Boa Vista Zona Oeste.
Silviane, estudante de Serviços Públicos, foi a última integrante da família a ingressar na instituição neste ano de 2017 e disse se sentir muito empolgada com a oportunidade e com o crescimento que a família está tendo cada vez mais unida agora por meio da educação. “Eles começaram primeiro, e só faltava eu. É muito bom ter toda a minha família junta, com um mesmo objetivo”, comentou.
O mais novo, que foi o primeiro a começar o ensino técnico no CBVZO, Mannasses Melo da Silva, disse que tem gostado de ter a família assim tão empolgada com os estudos e que fica feliz porque todos os colegas de escola acham muito legal essa história. “É legal vê-los assim felizes e estimulando uns aos outros”, comentou.
E o pai, Sanches, um dos mais empolgados com a família de estudantes, disse que agora as expectativas aumentam cada vez mais e que tem certeza de que, por meio da formação, toda a família chegará muito mais longe. “Já estou sonhando com o ensino superior não só para os meus filhos, mas para mim também. Entendemos que o caminho é esse e não vamos parar. As expectativas são as melhores possíveis”, declarou.
Vantagens do envolvimento concreto da família no processo de educação
Segundo a pedagoga Francimeire Sales, é fundamental a família ter entendimento da importância do processo de formação para o bom desempenho dos estudantes, influenciando diretamente na trajetória estudantil. E, quando a família toda está estudando, esse processo acaba sendo mais fácil.
“O fato de a família compartilhar da mesma condição de estudante possibilita que tenham mais condições de compreender a importância do processo de formação para o crescimento pessoal e desenvolvimento familiar. Assim, a motivação se desenvolve como um diferencial para a superação das dificuldades encontradas durante o percurso, sendo mais propícia a permanência e o êxito desses estudantes”, destacou a pedagoga.
A psicóloga Andressa Rebouças também aponta a importância da influência da família nos aspectos psicológicos/emocionais e, consequentemente, no rendimento escolar dos estudantes. Ela ressalta que, quando todos os integrantes estão juntos em um mesmo objetivo, o estímulo é maior. “Não é à toa que, estando bem ou não no ambiente familiar, os estudantes querem de algum modo ‘dar orgulho’, obter algo que talvez ninguém da família tenha conseguido, como o acesso a uma educação de qualidade. E, quando se fala dessa educação, não é só nos aspectos das notas nos componentes curriculares, é algo bem mais amplo: formação de caráter, postura. Com todos juntos, então, os resultados serão melhores”, frisou.
A diretora do CBVZO, Cida Medeiros, afirma que essa é uma das situações que mais recompensam quem atua pela educação, sobretudo na área em que está trabalhando, na zona oeste da cidade, onde se concentra um grande número de pessoas em situação de vulnerabilidade social.
“Estamos nos empenhando para oferecer o mesmo padrão de ensino da rede federal na zona oeste, onde o IFRR já está atuando e em fase de implantação da estrutura própria. É uma imensa satisfação oferecer oportunidades nesta área para toda a população. Vermos, então, uma família inteira estudando e satisfeita com nosso trabalho é um grande estímulo para nós e, o melhor, um grande incentivo para toda a sociedade, um exemplo”, declarou.
Por: Sheneville Araújo
Fotos: Gildo Junior