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Educação, democracia e êxodo

Ronaldo Mota*

Graças à educação, bem como à ciência e tecnologia que dela
decorrem, a civilização humana vive, em termos comparativos, seus
melhores dias. Seja pela inédita qualidade de vida, mensurada pelo acesso
a serviços e produtos, seja desfrutando de mais saúde e, em tese, maior
potencial de atingimento de felicidade do que tínhamos no passado.
Durante milênios, a expectativa de vida permaneceu estabilizada em
torno de 40 anos. No século XX, ultrapassamos os 70 anos e continuamos,
neste século, a avançar significativamente. A busca pela razão, guiada pelo
conhecimento, tem assegurado um desenvolvimento acessível a uma
parcela cada vez maior da população mundial.
A democracia, em que pesem suas fragilidades, é o que dispomos,
contemporaneamente, de mais avançado e justo socialmente. A
Constituição Brasileira traz no seu Art. 1 o , Parágrafo único, o que segue:
“Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes
eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.
Êxodo é o nome dado para a saída de um grupo de pessoas de uma
região para outra. É também o título do segundo capítulo da Bíblia, onde é
descrita a fuga dos hebreus do Egito, liderados por Moisés, em direção à
Canaã, a “Terra Prometida”.
Educação, democracia e êxodo parecem ter marcado um estranho
encontro nesta eleição presidencial no Brasil. A polarização política
vigente é motivada, principalmente, pela oposição a algo e menos por
adesão a determinadas ideias. Ou seja, parcela do eleitorado parece ter
mais clareza acerca do que não quer do que o que, de fato, quer. O drama
é que por se firmarem mais no “não” do que no “sim”, são eleitores que
parecem igualmente tender a sugerir, quase como chantagem, a
possibilidade de, caso não sejam vitoriosos, abandonar o país. Ainda que
emigrar seja um direito individual ou coletivo inquestionável, o uso desta
chantagem é, definitivamente, pouco educado e, no limite,
antidemocrático.

Educação não é somente o alicerce básico da oportunidade de um
desenvolvimento econômico, social e ambiental sustentável; ela é
também a melhor ferramenta para enfrentarmos momentos complexos e
difíceis. Educação política é aprender a conviver com os antagônicos e,
especialmente, aprender a respeitar as orientações assumidas via maiorias
constituídas. Mesmo quando elas, eventualmente, nos pareçam
equivocadas e desprovidas de nexo. É hora de lembrarmos que, ao lado
de seus defeitos e limites, a democracia permite, usando seus próprios
mecanismos, se corrigir ao longo do tempo.
Escrevendo no abstrato, que a antecedência do fato permite,
entendo que, uma vez eleitos, mesmo quando, eventualmente, contrários
em temas substantivos para cada um de nós, eles merecem o
reconhecimento geral de legitimidade. Sem prejuízo de garantirmos a
todos a oportunidade de continuarem defendendo projetos e ideais
diferentes dos eleitos. Acima das peculiaridades de breves momentos
históricos, por mais relevantes que eles sejam, há a saga de um país que
não pode jamais se deixar vencer. Os fatos serão alimentos para uma
educação social consistente de uma nação que permanentemente
aprende, de forma solidária e cooperativa.

*Chanceler da Estácio