Guariba, o projeto que ensina crianças de Pacaraima a gostar de ler

Ao constatar que colegas de escola da sua filha Deborah, com idade de até 10 anos, ainda não sabiam ler, o professor Devair Fiorotti, professor da Universidade Estadual de Roraima no campus de Pacaraima, resolveu tomar uma atitude. Daí surgiu a ideia do Projeto de Letramento Guariba, da UERR, que reconhecido como educação tutorial, é financiado pelo Ministério da Educação por meio do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação). Tanto o coordenador quanto as acadêmicos da UERR que atuam como monitores recebem uma bolsa do ministério.

O guariba é uma espécie de macaco comum na região Norte de Roraima, mas que tem perdido seu território para a expansão dos municípios. O nome do projeto, conforme Devair, sem justamente daí: “é uma questão de resistência. Até hoje há em Pacaraima macacos Guariba, apesar de termos tomado o espaço deles, sinônimo de força e persistência. São crianças que não desistem, brigam, lutam contra o descaso e as dificuldades”, diz.

A iniciativa funciona a seis anos atendendo crianças com dificuldades de leitura e escrita, que são encaminhadas pela própria escola municipal Casimiro de Abreu, na sede de Pacaraima. “Teoricamente, o projeto se sustenta nas práticas de Letramento, guiadas pelos estudos dos gêneros textuais. Atualmente, oito acadêmicos participam ativamente, mas o projeto original contemplava 12”, explica. Até hoje, pelo menos 300 crianças já passaram pelas atividades, uma média de 50 por ano. O projeto também atendeu a escola Índio Manoel Barbosa, até ano passado, mas parou por falta de recursos.

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A média de idade dos participantes é de 9 a 12 anos, mas o projeto já atendeu adolescentes de 15 anos. As crianças são encaminhadas pela escola, depois de diagnosticadas pelos professores e, geralmente, não sabem ler, escrever e interpretar textos. O sistema é rotativo e na medida em que as crianças melhoram o desempenho vão dando vaga para outras. “Alguns continuam, às vezes, quando o nível de dificuldade é muito grande. Sempre dizem que há crianças problema, nunca encontrei nenhuma. Há família problema, sociedade problema e escola problema”, comenta ele.

As crianças, divididas em três equipes, vão ao projeto três vezes por semana, duas horas por dia, das 15h30 às 17h30.Também há um dia destinado a reunião de avaliação entre coordenador e monitores, que ocorre toda semana. As avaliações, conforme o professor, consideram a evolução ou não das crianças, ou seja, se o projeto contribuiu, de alguma forma, no desenvolvimento intelectual dos participantes. “Em geral, a gente consegue uma melhora muito significante com aqueles que efetivamente frequentam as aulas. Os próprio professores fazem questão de encaminhá-los”, comemora Devair. O mérito, ressalta ele, é dos acadêmicos, que “se envolvem e assumem a responsabilidade pelas crianças”. “Eles são geniais neste sentido, pois o projeto tem um caráter social”. Além disso, já virou objeto de estudo de uma dissertação de mestrados e de três trabalhos de conclusão de cursos de graduação.

Por Élissan Paula Rodrigues