Guia para quem quer começar a investir na bolsa de valores

A euforia recente com a Bolsa de Valores, que voltou a subir no início deste mês após alguns tombos nas semanas anteriores, tem atraído a atenção de muitos brasileiros que ainda não se aventuram no terreno do mercado de capitais. Apenas neste ano, o índice Ibovespa, que é a média das ações mais negociadas na bolsa, subiu quase 27% – um salto e tanto comparado com a poupança e outras opções de renda fixa, como CDBs e fundos, cujas valorizações, em geral, dificilmente passaram dos 7% no mesmo período.

E, com a queda da taxa básica de juros (Selic), que contamina toda renda fixa, a tendência é de que mais gente procure o mercado de ações. – Apesar da alta recente, para entrar nesse mundo, é preciso estar consciente que existem altos riscos e também buscar sempre conhecimento sobre a economia e as empresas com ações negociadas na bolsa – alerta Reinaldo Domingos, educador financeiro do canal Dinheiro à Vista, no YouTube. Assim como sobe abruptamente, a bolsa também pode desabar – e, para isso, basta um agravamento na crise política, dados ruins sobre a economia e uma inversão de expectativa quanto ao lucro de grandes empresas.

Foi o que aconteceu, por exemplo, em 2008, quando a Bolsa engrenou uma sequência de altas e, dois anos depois, com o agravamento da crise econômica, desabou até os patamares de 2016, ano em que voltou a subir. Mas quem está ciente dos riscos e decide negociar na bolsa também pode encontrar boas possibilidades de lucro. Ações de grandes empresas, como Vale, Petrobras, Itaú e Ambev, tendem a se valorizar no longo prazo, conforme analistas financeiros, trazendo chance de ganho para os investidores.

Economistas sugerem aos novatos aplicarem não mais do que 15% ou 20% das suas poupanças na Bolsa, deixando o restante em opções mais seguras. Para começar a investir, deve-se procurar uma corretora ou um banco de investimentos (os grandes bancos brasileiros têm um “braço” de corretora que ajuda o cliente a investir) cadastrados na B3 (novo nome da Bovespa), informação simples de encontrar no site da Bolsa. Depois de fazer o cadastro e abrir uma conta na corretora, o investidor poderá começar a pegar uma parte de seu dinheiro e comprar e vender ações.

O investidor pode fazer isso a partir de seu próprio computador ou investindo por intermédio de um fundo, administrado por gestores especializados em mercado de capitais – essa alternativa costuma ser mais segura para quem não domina informações sobre investimentos. Consultores financeiros apontam que a ideia de lucro fácil e rápido, como muitos podem estar cultivando neste momento, costuma ser ilusão. Isso porque quem desfruta dos “saltos” na bolsa é justamente quem já estava nela anteriormente, passou por momentos de vacas magras e, agora, começa a ver suas ações subirem.

Quem começar a aplicar agora não tem garantia alguma de que a alta continuará. – É necessário ter em mente que o mercado de ações é lucrativo, porém, é preciso ter paciência, estar preparado para as oscilações que sempre ocorrem no mercado e saber a hora certa de vender e comprar as ações – afirma o consultor financeiro André Bona.

Tire suas dúvidas

O que são ações

Ações correspondem a uma pequena fatia de uma empresa que tenha capital aberto. Quem tem muitas ações pode até participar do conselho da empresa e opinar nas decisões. As maiores companhias brasileiras, como Petrobras, Vale, Itaú, Ambev e Gerdau, têm ações disponíveis para negociar. O valor muda conforme a oferta e a procura por esses títulos – se uma empresa desperta muito interesse, as ações sobem e vice-versa. É possível vendê-las quando quiser pela B3 (antiga Bovespa) – desde que haja quem queira comprar, é claro –, com os preços de mercado daquele momento.

Para que servem

O objetivo de quem aplica em ações é sempre vender o título por um valor mais alto do que comprou, embolsando o lucro (o famoso chavão “entrar na baixa e sair na alta”). Além de vender e até alugar, quem tem posse desses papéis tem direito a receber uma fatia dos lucros da companhia proporcional à sua participação. Entre os tipos de ações, há as preferenciais (PN), com as quais o investidor tem preferência no pagamento da parcela do lucro, e as ordinárias (ON), que dão direito de voto ao acionista, mas têm menor peso na hora da distribuição dos lucros.

Como investir

O primeiro passo é criar um cadastro em uma corretora de valores ou banco de investimento. Por meio desse cadastro, o investidor negocia as ações, seja por conta própria pela internet (em sistemas chamados Home Broker), seja pelos fundos de ações oferecidos pela corretora. A forma mais indicada para começar são justamente os fundos ou clubes de investimentos, que facilitam bastante a vida do investidor, já que é um especialista que escolherá quais ações comprar e vender. Mas, nesses casos, é cobrada uma taxa de administração anual, que costuma variar de 0,5% a 3% do valor aplicado. Confira as corretoras e os bancos cadastrados na Bolsa em bit.ly/bolsacorretoras.

Quais as vantagens

Uma vantagem é a chance de conseguir rendimentos mais altos do que a renda fixa (títulos do tesouro, CDBs, fundos, poupança etc.). Também há um papel cidadão importante: o de direcionar dinheiro para empresas brasileiras que poderão usá-lo para financiar, investir, crescer e gerar emprego.

E os riscos?

Se permite um rendimento maior, a renda variável também deixa o investidor mais sujeito a perdas, especialmente caso precise vender as ações em momento de baixa. Portanto, é preciso ter consciência de que o mercado financeiro pode mudar a qualquer momento. O principal risco é de as ações caírem após serem compradas, e o investidor precisar vendê-las para usar o dinheiro para alguma eventualidade. Há também o risco de liquidez: de precisar vender e não haver interessados em comprar, então, ter de baixar tanto o preço que a perda será muito expressiva.

Como montar uma boa “carteira” de ações

Economistas sugerem reunir ações de empresas de diferentes segmentos, para evitar que uma crise em determinado setor arruíne toda a aplicação. E, dentro dos setores, procurar empresas com melhores estratégias e fundamentos de gestão para crescer e lucrar no longo prazo. Algumas que têm se destacado são Usiminas, Eletrobras e Estácio apenas em agosto, valorizaram-se 33,27%, 30,52% e 26,52%, respectivamente. Embora indique rentabilidade passada, essa alta não garante rentabilidade futura – regra básica das ações.

Quais os custos?

Há custos de corretagem para cada operação realizada, que variam de corretora para corretora, taxa de custódia e taxa de emolumentos. Além disso, há incidência de Imposto de Renda (IR): uma pequena parte (0,005%) é retida na fonte e o restante (14,995%), sobre os ganhos líquidos na venda ou liquidação da ação, que deve ser recolhido mensalmente pelo investidor. Quem vende até R$ 20 mil por mês no mercado à vista está isento do IR. Os fundos cobrem Taxa de Administração.

Para quem é indicado?

As ações são interessantes para quem tem bom conhecimento sobre economia, ou seja, acompanha agências de notícias especializadas e relatórios sobre a economia, os preços das commodities e o mundo corporativo. Indica-se para quem busca rendimento no longo prazo (a partir de 10 anos), um período em que a chance das ações valorizarem é mais alta em razão da perspectiva de crescimento da economia e das empresas negociadas. Há quem aplique buscando lucro rápido, mas os riscos também crescem.

É preciso ser rico para aplicar na bolsa?

Não, pois é possível usar quantias bem pequenas comprando apenas uma ação. Porém, não é muito aconselhável investir pouco, principalmente por causa das taxas que costumam ser cobradas por bancos e corretoras. Uma opção para diluir os custos é investir em ações por meio dos fundos de investimentos. Nesses espaços, as taxas são divididas entre todos os participantes.

A hora é agora?

Se você está pensando em investir na Bolsa porque acompanha a recente euforia, saiba que muita gente tem os mesmos planos. Analistas financeiros alertam que este é um movimento esperado, e o risco mais comum é o de “chegar no fim de festa”, ou seja, começar a investir justamente quando a Bolsa já subiu o que tinha de subir e, dali por diante, se estabiliza ou cai. Nesse tipo de caso, o erro seguinte é o investidor se assustar e sair na baixa, perdendo parte do que aplicou. Portanto, entrar na Bolsa não deve ser uma forma de surfar na moda, mas sim uma aplicação que vise ao longo prazo.

Fonte: ZERO HORA – ONLINE