A carreira marcada por conquistas importantes para a arte indígena contemporânea, protagonizada por Jaider Esbell, ganha um novo capítulo em 2020. Esbell está confirmado para a exposição de artes que ocorre a cada dois anos, desde 1951, a Bienal de São Paulo, considerada um dos três principais eventos do circuito artístico internacional, junto à Bienal de Veneza (Itália) e Documenta de Kassel (Alemanha).
Conforme a programação divulgada recentemente, essa edição terá um novo formato e contará com parcerias de diversas instituições para receber exposições e palestras em 25 pontos culturais da capital paulista. Jaider Esbell foi escalado para levar sua exposição para o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM São Paulo), onde ficará de setembro a dezembro.
Para o artista, como se autodefine por sua trajetória marcada por arte com ativismo, estar na Bienal “é, antes de tudo, um momento de muita reflexão”. Jaider explica que é necessário rever toda a sua trajetória, o seu compromisso com os povos originários ao decidir o que apresentar, como expor e até mesmo sobre aceitar ou não o convite feito a ele.
Mas afirma: “Tem que ir porque é arte. Eu vou, mas não vou de qualquer jeito. Querem o meu trabalho? Não vão ter. Vão ter a diversidade das questões indígenas, complexas como elas são. Quando recebi o convite, levei comigo a Bernaldina [José Pedro], minha mestra da cultura Macuxi, e disse a eles [organizadores da exposição] que precisavam conversar primeiramente era com ela”, lembra.
É com essa determinação de continuar o trabalho, que começou há alguns anos, para difundir a história e a arte indígena contemporânea pelo mundo, acima de tudo, de forma crítica que o artista indígena levará para o palco principal da Bienal a exposição ‘A guerra dos canaimés’. Como tem feito nas últimas apresentações por vários lugares do mundo, as exposições de Esbell envolvem, além das obras de artes visuais, performances e literatura.
“O objetivo é levar a esse ambiente público, de formação e de opinião pública, uma reflexão, pensando sobre a questão da guerra recente, política, ideológica e filosófica para demarcar a Raposa Serra do Sol, paramantê-la demarcada, homologada, buscando minimamente uma compreensão a partir do nosso povo, da nossa história que é bastante conflituosa e de uma cultura muito viva”, observa.
ATIVIDADES EM 2020
Além da Bienal de São Paulo, Jaider Esbell vai dar continuidade ao trabalho que tem feito ao longo dos últimos cinco anos, viajando pelo mundo com a arte indígena contemporânea. Ele deve ficar por Roraima até o mês de março. Depois disso, se concentrará em São Paulo para dar continuidade também ao trabalho ‘Passo Passo Macunaima’, que iniciou ano passado.
Segundo ele, trata-se de uma provocação que levou para os espaços paulistas como forma de agrupar pessoas e convocá-las “a pensar criticamente, e a fazer o enfrentamento ao fascismo generalizado”. “Especialmente os próprios indígenas, aqui em Roraima, inclusive, que tem apoiado toda essa questão de desencadeamento da volta do garimpo, e toda essa violência generalizada, e que poucos fazem para respirar alguns ares de esperança”, ressalta.
Em junho, está prevista uma ‘Residência artística’ que fará entre duas cidades, que ficam na França e em Portugal. Depois da Bienal, a programação de trabalho de Jaider Esbell segue para o Canadá. Lá terá o desdobramento de uma atividade que aconteceu ano passado, o seminário Arctic Amazon, em busca da interação entre artistas da Amazônia com artistas do Ártico.