A principal barreira que os refugiados e migrantes venezuelanos enfrentam ao entrar no Brasil é a falta de domínio da língua portuguesa. Mas para 84 migrantes que acabaram de receber seus certificados de conclusão de curso de português esse desafio já está bem menor. Eles fazem parte de mais uma turma do projeto “Ven, Tú Puedes!”, realizado pela ONG Visão Mundial, e financiado pelo governo dos Estados Unidos.
Somente no ano passado, mais de 1,1 mil migrantes e refugiados terminaram esse primeiro contato com a língua. As aulas são voltadas para a comunicação, com gramática mais leve, que resultam em amizades para o resto da vida, como fala Receba Araújo, diretora e professora do Inspire Rebeca, responsável pelo ensino.
“Dentro do contexto de acolhimento, de escuta ativa das histórias dos alunos, nossas aulas trabalham conteúdos que podem ser aplicados no dia a dia, que criam laços de amizade e afetividade com os alunos. Entendemos que os estudantes que gostam do professor conseguem ter um melhor desempenho nas atividades e um aprendizado significativo”, explica Rebeca.
Formação
Lucibell Medina e Miguel Gonzalo se conheceram na adolescência e juntos cruzaram a fronteira Venezuela-Brasil há cinco meses. Eles são alguns dos alunos que concluíram o curso também. Ele afirma que as aulas não apenas permitiram aprender o idioma, mas trouxeram aspectos culturais e comportamentais da sociedade brasileira.
Para ele, as duas semanas abordaram leis, normas e palavras que mudam completamente o sentido do espanhol para o português. “Essas atividades nos mostraram também como nos comportar no país onde chegamos. Minha esposa e eu não sabíamos nada de língua portuguesa, mas agora conseguimos construir frases, compreender as pessoas nas ruas, mercados e outros lugares que frequentamos. Agradeço a Visão Mundial por esse projeto que beneficia a todos nós”, externou.
A coordenadora do projeto em Roraima, Bárbara Gil, afirma que dominar a comunicação no idioma ajuda os venezuelanos a se inserirem de maneira mais rápida na sociedade. Ela também fala que, após esse processo, eles podem buscar capacitação em cursos profissionalizantes ofertados de maneira gratuita pela organização para conseguirem uma vaga no mercado de trabalho.
“Já temos vagas abertas para cursos profissionalizantes. Por isso, essa primeira capacitação em língua portuguesa é importante, pois é a porta de entrada para que as pessoas sejam autônomas, desempenhem suas atividades e consigam um lugar no mercado de trabalho. Dessa forma, esses migrantes podem dar uma vida digna para si e para a família”, finaliza Bárbara