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Mudar de profissão: conheça duas histórias que podem te inspirar a recomeçar

Quase todo mundo um dia se questiona sobre a vida, seja por uma insatisfação, por um desânimo, por cansaço ou mesmo só porque está entediado com a rotina da própria vida. Dentre os inúmeros questionamentos, a mudança de carreira está sempre presente nesses momentos. Só que algumas pessoas desanimam, acham que não é o momento ou não tem mais idade para mudar e deixam o sonho morrer. Mas se você continua pensando nisso, a reportagem do EducaRR ouviu duas histórias inspiradoras com mudanças radicais de profissão para você não perder o foco e tomar uma decisão logo.

O médico que virou juiz de Direito

Geralmente, grande parte da sociedade acredita que formar os filhos em Medicina é uma escolha certeira. Dificilmente as pessoas se arrependem da escolha da profissão e, na maioria das vezes, sempre são bem sucedidos. Mas foi exatamente dessa área tão desejada, que Roraima ganhou um juiz de Direito há exatamente um ano quando o capixaba Eduardo Oliveira, de 44 anos, foi empossado no Tribunal de Justiça de Roraima.

O ex-médico lembra que a mudança radical de carreira a que se submeteu aconteceu porque ele precisava realizar um sonho de infância. “Sempre quis ser juiz, desde criança. Mas sou de uma família de médicos e, na hora de escolher o curso para o vestibular, pesou bastante. Seria, digamos, um caminho mais fácil para mim”, lembra.

Ele conta que chegou um momento em que se cobrou muito sobre ter adiado tanto esse sonho. “Teve uma hora em que falei para mim mesmo: agora realizo meu sonho ou esqueço de vez. E aí decidi encarar esse desafio. Então, não era porque estivesse insatisfeito com a minha antiga profissão, que é muito bonita. Mas era um sonho de criança que martelava”, explica.

A história do juiz não é diferente de todo mundo que resolve mudar de profissão. Uma coisa é certa nessa trajetória: muito estudo e dedicação serão necessários para alcançar seus objetivos. No caso de Eduardo ele teve que voltar para aos bancos da faculdade porque precisava cursar Direito, um dos pré-requisitos para se tornar juiz. “Foi um processo penoso porque, como médico, trabalhava durante a semana e aos finais de semana. Por isso, precisava fazer a faculdade no período noturno. Mas quanto ao estudo em si, não foi tão complicado pra mim porque o médico estuda muito, nunca para de estudar. Então, eu nunca tive que deixar de lado o estudo. Portanto, isso até me ajudou bastante, eu tinha uma leitura mais rápida e me ajudou”, relembra.

Depois de superar essa fase, o médico que já havia exercido a medicina por 20 anos, ainda precisou atuar na advocacia por mais quatro anos e só aí estar apto para concorrer a uma vaga de juiz. “Faz um ano que estou no cargo de juiz e estou muito satisfeito profissionalmente e pessoalmente. O estado é bem acolhedor, o TJ de Roraima é um Tribunal de ponta, um dos melhores do país. Nós temos toda a estrutura necessária de trabalho e eu estou realizado”, comemora.

Da comunicação para a gastronomia

Já a história do chef de cozinha Beto Bellini, de 45 anos, é bem semelhante ao que acontece com a maioria das pessoas que decidem mudar de carreira. Uma insatisfação comum a quem já atingiu todos os objetivos e metas na profissão que escolheu e por ser movido a desafios quer sempre superar limites e alcançar novos caminhos.

“Acho que tudo na vida é cíclico. Tem começo, meio e fim. As pessoas precisam aceitar esse momento de declínio nas suas vidas. E chegou num ponto que eu constatei: daqui não passo. Só vou começar a descer. Eu não quero ficar ladeira a baixo. Eu quero subir de novo. E como eu faço isso? Buscando novas perspectivas. Foi aí que começou a mudança”, explica.

Bellini lembra que começou a trabalhar ainda adolescente, 17 anos, com Publicidade e nunca parou. Se formou, abriu uma empresa e se tornou professor na sua cidade natal, Manaus (AM). Tudo que fez por mais de 20 anos era voltado para Comunicação, seja na iniciativa privada ou no setor público, no Amazonas e em Roraima.

Mas ele conta que sempre gostou muito de cozinhar e, em meio aos elogios de amigos e familiares, uma sementinha era plantada quando as pessoas diziam que deveria investir nessa área. Até que um dia ele resolveu experimentar e montou o primeiro deliveryde massas de Boa Vista, o Mama Mia.

Naquela época a semente cresceu e ele se encontrou. Mas os percalços da vida fizeram dar um passo atrás e aguardar mais um pouco para investir de vez na gastronomia. “As vendas estavam ótimas, resolvemos ampliar, sair de casa. Alugamos um ponto comercial e a coisa andou. Eu e minha esposa fazíamos três turnos. Mas quando nossos filhos nasceram ficou incompatível paternidade/maternidade com esse ritmo de vida. Aí passamos o Mama Mia adiante e paramos para cuidar das crianças”, lembra.

Somente depois de alguns anos, a necessidade o fez pensar novamente na gastronomia. Na época, ele tinha voltado a se dedicar apenas a comunicação e os negócios iam de vento em popa. Mas na crise de 2015 para 2016, a empresa da família não tinha mais nenhum cliente. “Minha esposa falou: por que você não dá aula aqui nessa cozinha? Foi quando criamos o Clube Gourmet Roraima, que é uma espécie de confraria para receber as pessoas que querem trocar informações, dicas, receitas. Tem até hoje turmas para crianças e adultos em todas as áreas. Do risoto ao churrasco, a comidas típicas de um determinado país”, explica.

A partir de mais experiências bem sucedidas com o Clube e o Le Garage, Bellini entrou de cabeça na área e, hoje, tudo o que faz é voltado para gastronomia. Ao longo dos últimos anos se dividiu entre a faculdade, as inúmeras capacitações, certificações e visitas técnicas que fez por vários lugares do país para se dedicar apenas ao chef de cozinha em que se transformou.

Ele lembra que durante a faculdade teve o apoio incondicional da esposa para estudar, por exemplo, seis meses iniciais em Manaus, antes de abrir o Núcleo em Boa Vista. Nessa época já estava com mais de 40 anos e isso nunca foi problema. “Eu penso o seguinte: se você quer ser um bom profissional você tem que investir em capacitação. Não tem para onde correr. É somente este o caminho”, ressalta.

Hoje já com alguns anos dedicados à área acumula conquistas que trazem orgulho, como os projetos e estudos que buscam a valorização de ingredientes e sabores de Roraima para desenvolver a identidade gastronômica do extremo Norte através de receitas autorais tais como o Sanöma, os cogumelos Yanomami.

Como resultado de suas pesquisas e receitas desenvolvidas com os cogumelos, foi convidado para apresentá-las durante um jantar oferecido pelo Instituto Socioambiental aos líderes e à comunidade Yanomami, que contou com a presença de, ninguém mais, ninguém menos, que o chef Alex Atala. Foi criador e apresentador do primeiro canal roraimense de gastronomia no Youtube, o Desgourmetiza, e um dos idealizadores e coordenadores da feira Rota do SaboRR. Já representou o estado de Roraima em um reality show nacional de culinária, o Cozinheiros em Ação, do canal GNT, sob o comando de Olivier Anquier.

Passou a ser um dos Embaixadores da Gastronomia Brasileira após vencer o prêmio nacional Dólmã, em 2017. Já foi chef convidado de diversos eventos como o Festival Mercado das Tulhas, em São Luís do Maranhão, o Fórum de Embaixadores da Gastronomia do Norte, no Amapá, Enchefs Amazonas, em Manaus, Enchefs Rondônia, em Porto Velho, e Sabores do Acre, em Rio Branco. Além de ter representado Roraima no evento promovido pela empresa Culinary Culture Connections à imprensa e agentes do segmento gastronômico da Flórida/EUA.

Hoje, Beto ampliou sua área de atuação na gastronomia atuando também em um projeto de pesquisa sobre a aplicação das PANCS (Plantas Alimentícias Não-Convencionais) na alta gastronomia em conjunto com a bióloga, professora e pesquisadora, Dra. Mahedy Passos, do Centro Estadual de Educação Profissional de Roraima e o chef Jamim Moura, do restaurante Cozinha do Jamim.

Ser feliz é sempre o mais importante, afirma psicólogo

 

O que leva uma pessoa a pensar em modificar por completo o que tem feito há anos como profissão? Para o psicólogo Leonardo Morais, existem inúmeras questões que podem contribuir com esse desejo. Não necessariamente, afirma o especialista, essa pessoa esteja passando por uma crise.

“Muitas vezes os motivos são financeiros, mas pode ser uma oportunidade nova de trabalho. Ou até mesmo a identificação com o aspecto empreendedor pode fazer com que as pessoas queiram mudar de carreira. No entanto, é preciso ressaltar que ‘estar em crise’ não é algo ruim na nossa vida. De certo modo, a crise é um mecanismo de defesa, de sobrevivência nos avisando que alguma coisa não está de acordo ou coerente com o nosso propósito de vida”, explica.

Segundo Morais, é importante encarar a crise “como um momento propulsor de mudanças e atualizações, que não deixam traumas”. Ele observa ainda que despertar para uma necessidade de mudança e não fazer nada efetivamente para chegar lá, pode fazer com que a pessoa acabe, futuramente, desenvolvendo um outro problema de saúde. “Sem dúvida nenhuma, a pessoa que tem a sua função profissional não realizável pessoalmente, futuramente, tem sim chance de outras psicopatologias como depressão, ansiedade, crise de pânico, entre tantas outras”, alerta.

Portanto, se ainda não encontrou o caminho certo para encarar novos desafios, uma das sugestões do especialista é buscar uma ajuda profissional. “A ida ao psicólogo é determinante porque é uma das ferramentas que existem para que a gente possa ter autoconhecimento, o que tem a ver com potencial realizável profissionalmente, pessoalmente ou emocionalmente. Esses são sempre aspectos interligados para que você tome uma decisão como esta”, explica.

Leonardo ressalta, por fim, que o mais importante a ser pesado por qualquer pessoa é a felicidade. “Esse é o propósito nosso de vida em qualquer circunstância”, afirma, lembrando que a atividade profissional ocupa grande parte do seu dia, cerca de seis a oito horas, e não é nada saudável fazer o que não gosta e que não dá prazer. “Então esse aspecto é o principal. E envolve também o aspecto financeiro. Como escolher um trabalho que não supre a minha demanda de vida estrutural, como uma casa, um carro ou até a sobrevivência da família? Isso vai pesar sem sombra de dúvida”, ressalta.

Por essa razão, o especialista orienta cada pessoa se auto avaliar sobre o potencial que possui para a nova atividade que pretende desempenhar. “Não adianta ter o mínimo potencial, idealizar demais uma situação e se frustrar posteriormente. Toda mudança precisa ser bem planejada. E sendo bem planejada, ela tem grandes chances de alcançar seus objetivos”, conclui.