NOVOS TEMPOS, NOVAS VISÕES

Luiz Gonzaga Bertelli, presidente do Conselho de Administração do CIEE

Épocas de crise, quando emerge uma série de questões graves que demandam decisões rápidas, fazem com que passem despercebidas novas tendências sinalizadas pela evolução do cenário social e econômico. Tendências essas que, a par de mudar regras do jogo, abrem janelas de oportunidades que podem propiciar bons resultados para países, empresas e até indivíduos.

Essa foi uma das reflexões feitas por Marcos Troyjo, conselheiro do CIEE e diretor do BricLab (Centro de Estudos sobre Brasil, Rússia, Índia e China, da Columbia University) em palestra realizada na última terça-feira, com o lançamento do livro Desglobalização; crônica de um mundo em mudança. Cientista social, economista e diplomata, Troyjo parte da análise do cenário internacional nos últimos anos para tratar da crise da globalização profunda – fenômeno iniciado no pós-guerra e marcado pela integração econômica e política, que teve o ápice com a União Europeia.

A crise de 2008 trouxe o risco da desglobalização que, para o autor, significa não o fim de uma era, mas sim a desaceleração de um processo. O que autoriza essa visão? O Ocidente em xeque; a emergência de políticas nacionalistas; a ascensão da China com a internacionalização de sua economia; os conflitos étnicos e religiosos; entre outros sinais que reforçam ações protecionistas e reduzem a abertura das fronteiras.

Nesse cenário aparentemente adverso, ele aponta mais uma oportunidade para a inserção efetiva do Brasil no concerto das nações. Entre outras possibilidades, aponta alguns efeitos da expansão chinesa, hoje com fábricas em vários países asiáticos com baixa renda per capita. Neles, o crescimento da economia gerará mais emprego e renda, com aumento da demanda por bens que melhoram a qualidade de vida, inclusive a procura de alimentos, setor em que o País nada de braçada.

Nesse aspecto, vê uma ótima perspectiva para o Brasil. Cuja concretização, a meu ver, depende tanto de políticas públicas (marcos regulatórios efetivos, infraestrutura menos precária, estímulo à pesquisa e à inovação, etc.) quanto da mudança de estratégias e culturas empresariais mais adequadas – e antenadas – aos tempos que estão por vir.