O ano não começa depois do carnaval: veja quais as tendências para startups que chegaram fortes para 2023

*André Wetter, CBO e cofundador da a55 
A expansão digital da última década, acelerada significativamente pela pandemia de covid-19, colocou as startups no mapa de risco global. Segundo a CB Insights, empresa privada com plataforma de análise de negócios e banco de dados global, em outubro de 2022, o número de unicórnios — startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão — era superior a 1.200 no mundo inteiro. Apesar disso, segundo o mesmo estudo, a queda de investimentos em startups na América Latina e Caribe foi de cerca de 62%, contra 37% dos EUA. A recente turbulência econômica que atingiu esse ecossistema mostra que as startups precisam se adaptar a um novo momento. Por isso, 2023 será um ano de atenção, cuidado e muita frieza para empreendedores que precisam garantir estabilidade de seus negócios. 
Para começar, os investidores estão ainda mais criteriosos. Os recursos investidos têm sido direcionados para os que se preocupam com crescimento sustentável, e isso significa mais responsabilidade com o caixa. Portanto, este ano os olhos de quem assina os cheques estão voltados para redução de custos fixos, muita atenção com estruturas físicas desproporcionais, grandes times e pessoas com remuneração muito agressivas. O maior custo de capital e inflação diminuem a expectativa de retorno dos fundos e, por isso, estes acabam pagando valuations menos agressivos. Apesar disso, diversos fundos estão capitalizados, portanto, há ainda uma busca por bons ativos que tenham capacidade de gerar resultados. 
O que deve continuar em 2023 é a agenda de fusões e aquisições neste universo. O ano de 2022 foi um ano de crescimento para o mercado de M&A no Brasil e continuará com força neste ano. Entende-se que, com a redução da régua que mede o valor de mercado das empresas, a ideia é que grandes nomes se unam para somar forças e agregar serviços. Um exemplo notável de M&A no Brasil em 2022 foi a fusão da TOTVS, uma das principais empresas de software de gestão empresarial do país, com a RD Station, uma plataforma de automação de marketing. Essa fusão combina a experiência da TOTVS em soluções empresariais com a tecnologia da RD Station, criando uma empresa mais competitiva e capaz de oferecer uma gama ainda maior de soluções aos seus clientes. 
O maior foco também em ter unit economics(métrica para medir o sucesso econômico de negócios) positivos e uma operação rentável traz maior luz a formas alternativas de captação. Uma vez que diversas empresas estão focadas em ter capacidade de serem geradoras de caixa e ter um equilíbrio financeiro. Cada vez mais se torna factível financiar o crescimento ou tais unit economics com recursos próprios, ou alavancagem e dívida de terceiros sem a necessidade de investimentos societários e novas rodadas de captação.
Outra perspectiva é sobre a atuação do CVCs, majoritária em startups ainda no estágio inicial, principalmente aquelas em séries A. Em média, 70% dos investimentos realizados são para empresas deste perfil. Um estudo da Bain & Company revelou que o Corporate Venture Capital cresceu cerca de 30% nos últimos anos no Brasil. A pesquisa identificou cerca de 61 CVCs ativos no país e diversos em processo de desenvolvimento. 
Naturalmente haverá uma evolução do modelo de Corporate Venture Capital, com a compressão de múltiplos que ainda devem continuar em patamar mais baixo. Dado o maior custo de capital e inflação, maior será o interesse de tais instituições em aquisições com foco em tecnologia, em talentos (acqui-hiring) ou então para testes de novos mercados, features ou mesmo na sinergia de comercialização de serviços. Isso deve também despertar mais o interesse das próprias startups pelo setor que ainda é pouco conhecido. 
A descentralização da internet vai transformar os negócios mais cedo ou mais tarde, e este é o ano em que o mercado vai consolidar essa consciência. Desta forma, o setor deve esbarrar em questões regulatórias. Além disso, as consequências da pandemia permanecerão atuando, especialmente no quesito comportamental. Soluções que sejam eficientes em termos de custos ou que tragam redução de custos significativos devem também ter maior relevância num momento onde o capital é mais escasso em detrimento de soluções com time to market mais longas ou com custo elevado. 
Por fim, as tendências para startups em 2023 incluem o aumento da procura por dívida, a continuidade de valuations mais conservadores e aumento de fusões e aquisições (M&A). A busca por capital de risco continua forte, com os investidores buscando startups inovadoras e com modelos de negócios sólidos. 
* Com formação em Administração de Empresas pela Universität St.Gallen (HSG), na Suíça, André Wetter é confundador e CBO da a55, fintech brasileira especializada em crédito para empresas da nova economia.