A história do menino humilde que nasceu e se criou no bairro 13 de Setembro, na zona Sul da cidade de Boa Vista, capital de Roraima, se desvencilhou das más companhias, da aparente facilidade que o mundo do crime promete, e nos próximos dias vai representar seu estado no Campeonato Sul-Americano de Jiu-Jitsu 2016, em São Paulo, parece mesmo um enredo de filme. Marcélio de Oliveira Cruz, 18 anos, admite que nove anos atrás, antes de conhecer a modalidade esportiva, só pensava em jogar bola na praça do bairro, e esteve muito próximo de um ambiente propício ao crime e as drogas. “Fui totalmente lapidado e me tornei uma pessoa melhor. Aprendi a ter educação e respeito. Agora com 18 anos tenho sonhos. O caminho é longo, mas não é impossível”, profetiza o rapaz.
Nesse meio tempo ele soma mais de 100 medalhas em mais de 70 campeonatos diferentes. Ele conheceu o esporte na academia Associação Extremo Norte, situada no bairro em que se criou, e que tem um trabalho social reconhecido. Atualmente, treina na Roraima Top Team que, por meio dos professores Bruna Caroline e Bruno Romão, mantêm um projeto social que atende a mais de 150 crianças, a maioria em situação de vulnerabilidade. “Juntos, eles tiram centenas de crianças das ruas”, comenta Marcélio.
Foi um dos irmãos Marcelo, que o levou para conhecer a primeira academia. A partir daí, Marcélio, irmão mais novo dos cinco filhos do casal de aposentados Madalena Cruz e Celio é Oliveira, viu seu mundo se transformar em um pódio. “Meus pais ganham um salário mínimo cada um. No começo eu não tinha nem o kimono (roupa utilizada para lutar), e meu pai precisou economizar para juntar os R$120 necessários para comprar um bem simples”, relembra.
Ele diz que o pai foi o primeiro a acreditar no seu potencial para o esporte, e resolveu batalhar para o filho participar de competições em Roraima e no Amazonas. “Meus pais chegaram a deixar de comer para me mandar para campeonatos. E algumas vezes, não tive o que comer após chegar de um treino, indo dormir cansado e com fome. Porém, sempre com meu sonho me mantendo vivo”, comenta.
Marcélio deve ser o único representante de Roraima nos dias 26 e 27 de novembro, durante as competições do Sul-Americano de Jiu-Jitsu 2016, que acontece na cidade de Barueri. “Sem dúvidas é o mais importante não só da minha carreira, mas da minha vida”, ressalta. Para isso, ele vem treinando até duas vezes por dia. “Estou correndo atrás, me preparando ao máximo, mobilizando a família inteira pra ajudar. Se Deus quiser terei grande chances de trazer esse título para Roraima”, aponta.
O atleta também deve ministrar palestras de motivação no projeto Abrindo Caminhos, da Assembleia Legislativa de Roraima, que oferece aulas de balé, canto, teatro e Jiu-Jitsu, a crianças carentes na zona Oeste de Boa Vista. “O Jiu-Jitsu salva vidas quando tira crianças das ruas. Eu sou a prova viva disso”, comemora.
No próximo final de semana, antes de embarcar para São Paulo ele participa do Roraima Open de Jiu-Jitsu, um dos mais importantes campeonatos do estado.
O atleta conta com o patrocínio da Clinica Mãe de Deus, do Ji-Jitsu Absoluto, Truda Kimonos e da Clínica Odontológica Marcelo Ramos.
Texto: Élissan Paula Rodrigues
Fotos: arquivo pessoal
