O que esperam os empregadores?

Ronaldo Mota*

O mundo está mudando e os empregadores já não são os mesmos. Há uma grande tendência de que, progressivamente, o espaço de empregos tradicionais dê lugar ao surgimento de novas oportunidades profissionais, ancoradas em atividades e negócios inéditos. Neste cenário emergente, a figura do empregador clássico pode se alterar radicalmente ou, no limite, até desaparecer.

Mesmo assim, ao longo desta transição, os empregadores ainda são as pessoas responsáveis por dirigir empreendimentos, privados ou públicos, que continuarão decidindo sobre o futuro de parte dos profissionais desta geração. Portanto, bom sabermos mais sobre eles, o que pretendem quando contratam alguém e o que esperam dos profissionais contratados.

No passado recente, as expectativas dos empregadores acerca de um profissional a ser contratado eram menos complexas e mais previsíveis do que hoje. Atualmente, as próprias tarefas e missões estão se tornando quase impossíveis de serem antecipadas. Educar era mais simples, porém, as receitas anteriores não funcionam mais. Havia para cada uma das profissões uma relativa certeza acerca do conteúdo mínimo, bem como do conjunto associado de técnicas e procedimentos, que o formando deveria dominar.

Educar, contemporaneamente, continua a contemplar a formação profunda em um campo profissional específico, mas transcende em muito tal exigência, incluindo também desenvolver novas competências e habilidades socioemocionais que costumavam ser menos valorizadas. São exemplos desses ingredientes o destemor por novos desafios, o estímulo à criatividade, a propensão à inovação e o desenvolvimento do espírito empreendedor, além de saber trabalhar em grupo, explorando empatia e compaixão

Permanecem existindo conteúdos imprescindíveis a qualquer profissional e que serão as bases iniciais de sua capacidade de resolver problemas. Entre eles, o letramento sofisticado, que permita entender e escrever textos complexos, o domínio consistente das operações matemáticas, associado à capacidade de desenvolver raciocínios abstratos, o hábito da adoção do método, em especial o uso da metodologia científica e sua aplicação a pensamentos complexos e a

percepção adequada dos contextos geográfico e histórico, além do indispensável apreço pelas artes, pela cultura e pela ciência.

Ensinar nos padrões tradicionais nos tempos passados recentes teve enorme sucesso porque se mostrou compatível e coerente com as demandas inerentes aos modelos de desenvolvimento adotados até então. A complexidade atual exige ir muito além, introduzindo novidades, a maior parte delas decorrentes da emergência disruptiva das tecnologias digitais. Agir educacionalmente neste novo cenário demanda repensar a ciência da aprendizagem e propor e implementar modelos pedagógicos bastante distintos daqueles que, em geral, temos adotado. A memória se desvaloriza e a excessiva centralidade no conteúdo se fragiliza à medida que, gradativamente, o acesso à informação se faz ilimitado, instantâneo e gratuito.

A escola e seu principais atores foram até aqui menos afetados pelas tecnologias digitais do que o mundo externo a eles. Assim, em geral, os gestores educacionais e os professores, estranhamente, se mostram mais satisfeitos com o trabalho educacional que desenvolvem do que, de fato, se sentem os formandos e, especialmente, aqueles que os empregam. Este fenômeno por si evidencia um provável diálogo interrompido, até mesmo um divórcio, entre as realidades imaginadas nas escolas e aquelas vivenciadas pelos egressos em suas vidas profissionais.

As soluções educacionais em curso ainda são embrionárias, porém, algumas evidências sobressaem. O educando, mais do que nunca, é o centro e a aprendizagem, cada vez mais, personalizada. Todos aprendem o tempo todo e em qualquer lugar, sendo que cada um aprende à sua própria maneira. O domínio do conteúdo em si, ainda que relevante, torna-se relativamente menos importante do que ter aprendido a aprender. Assim, uma das mais refinadas artes educacionais é propiciar que cada educando aprofunde continuamente seu nível de consciência acerca de como ele aprende.

E como ficam os empregadores neste contexto? Tanto quanto os empregados, serão exigidos a rever conceitos, adotar novas estratégias e, por vezes, mudar radicalmente a essência de seus negócios.

*Chanceler da Estácio