Pesquisadores do Instituto Butantan, de São Paulo, iniciaram este mês trabalhos de busca em Roraima por espécies de serpentes ainda desconhecidas da ciência. A pesquisa faz parte de um amplo projeto que busca relacionar toda a biodiversidade existente no país.
“São estudos que visam obter um entendimento sobre evolução, sobre fisiologia, anatomia, taxonomia e diversidades de serpentes, répteis e anfíbios do Brasil inteiro, até rompendo as fronteiras do país”, explica um dos pesquisadores da equipe que esteve em Roraima, Franscisco Franco.
Nessa primeira visita, o grupo formado por três pesquisadores ficou 10 dias em Roraima. Os trabalhos no estado estão sendo feitos com a colaboração dos pesquisadores da Universidade Federal de Roraima (UFRR).
Franco explica que a intenção do grupo é retornar mais vezes para concluir a pesquisa. “Essa primeira viagem foi bastante produtiva, porém ainda considerada uma viagem exploratória. Agora, nós temos mais noção do que buscar, aonde buscar e como melhor planejar nossas expedições. Por fim, teremos como focar dentro dos problemas que a gente acha mais importante para serem resolvidos”, observou.
O pesquisador adiantou que as buscas serão realizadas dentro do lavrado e das florestas de Roraima. Segundo ele, essas áreas possuem diversas peculiaridades. “O lavrado tem uma fauna própria, por exemplo, e a diversidade de animais daqui se distingue de boa parte de outras regiões do Brasil”, ressaltou.
De acordo com Franco, estudos preliminares já apontaram que existem em Roraima novas espécies ainda desconhecidas da ciência e que esta será a principal busca dos pesquisadores. “Uma cascavel da ilha de Maracá. Uma jararaca da tríplice fronteira e, mesmo aqui da região do lavrado, próximo da capital, tem uma cobra também ainda desconhecida da ciência”, adiantou.
Ele explica que os animais encontrados no estado farão parte de um inventário do Instituto Butantan, que após serem coletados aqui serão levados à sede da instituição, em São Paulo, para ser estudados.
Pesquisas podem ajudar na descoberta de novos medicamentos
Apesar do temor que muita gente tem das serpentes, a ciência já provou que elas podem ajudar na cura de doenças. E trabalhos como o que os pesquisadores do Butantan estão realizando em todo o país são importantes não só para preservar a biodiversidade brasileira, mas principalmente porque pesquisas com o veneno das cobras vão ampliar as descobertas que já foram feitas até hoje.
“Os venenos são substâncias extremamente complexas e têm várias outras substâncias lá dentro e cada qual com um tipo de atividade. Eventualmente essas atividades podem ser utilizadas em nosso benefício”, completa o pesquisador.
Franco descreve algumas medicações já conhecidas da população como o Captopril, que é um remédio para pressão arterial que é feito a partir do veneno da jararaca. “Tem selantes de fibrinas, que estão sendo utilizados como produtos cicatrizantes para tecido. Estão desenvolvendo anestésicos a partir de veneno de cascavel. E a cascavel daqui da região é bastante interessante: tem o veneno um tanto quanto diferente das demais cascáveis encontradas pelo resto do Brasil, que são mal conhecidas. Então, elas podem e devem ser estudadas para gente descobrir quais os recursos que eventualmente possam ser utilizados a partir delas”, explicou.
O projeto realizado pelo Instituto Butantan já ocorre há alguns anos e ainda existe previsão de trabalhar por mais dois anos antes de ser concluído. Ele é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Fonte: Equipe EducaRR