Professora lança livro sobre gestão democrática escolar no Brasil

Ter uma administração escolar voltada para a democratização e participação de todos é um ideal antigo dos educadores que há muitos anos se tenta tornar efetivamente uma prática nas escolas públicas. E com a professora doutora Ana Célia de Oliveira Paz não foi diferente. Durante mais de 20 anos atuando na área educacional, ela viu o momento de finalmente discutir de fato essa questão.

Ela conta que uma inquietação lhe acompanhava em sua trajetória profissional sobre o que “era certo e o que era errado diante do contexto de gestão democrática que se vive no estado de Roraima”.

Ao levar o assunto para a sua tese de doutorado, ela e o professor orientador, doutor Elói Martins Senhoras, decidiram escrever um livro sobre o assunto. A obra ‘Campo de estudos sobre gestão democrática escolar no Brasil’ acaba de ser lançada e, este mês, Ana Célia inicia a divulgação do livro em todos os municípios do estado.

O trabalho, que será executado entre os dias 25 de abril e 19 de maio, contará com o apoio da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime/RR) e da Assembleia Legislativa. O apoio e parceria das duas instituições vão permitir ainda que os autores do livro façam uma mobilização em nível nacional para os municípios brasileiros. “Os municípios que solicitarem nossa participação, faremos debates e levaremos a obra para apresentação”, ressalta.

A ideia, segundo Ana Célia, é disseminar e mobilizar as comunidades escolares sobre o papel da gestão democrática. No entendimento dos autores, para que de fato essa gestão aconteça de forma democrática nas escolas é necessário que se discuta e garanta a implementação, antes de tudo, do projeto pedagógico de cada unidade escolar.

“É lá [projeto pedagógico] que está definida, com muita clareza, a intenção da escola. Então, a grande liderança, a equipe de gestão tem que entender, incorporar o projeto pedagógico e daí então estabelecer um processo democrático dentro da escola, garantido pela implementação do que está definido no projeto pedagógico”, ressalta.

Para a professora, independente da forma como cada unidade escolar define o gestor, o mais importante nesse processo é que a democratização na escola aconteça através da participação da comunidade escolar. “Porque quando há eleição, não se tem a garantia de que haverá a participação cotidiana nas decisões da escola. Pode-se eleger o representante e ele não abrir espaço para participação, e ser, na verdade, um centralizador nas tomadas de decisões”, observa.

Ela defende que o enfoque democrático está ligado às tomadas de decisões participativas através dos conselhos escolares e das associações de pais e mestres, contribuindo com a gestão da escola a partir das definições das diretrizes educativas. “Essa é uma via de mãos dadas conjuntamente. Portanto, a pesquisa não determina se é democrático ou não se aquele foi eleito ou indicação política. O que define é o perfil do gestor como liderança maior e o respeito ao projeto pedagógico da escola”, explica.

No entanto, a professora abordou em seu livro o levantamento feito no país quanto à forma de escolha do gestor escolar. Roraima é um dos 10 estados brasileiros que fazem indicação política, juntamente com mais três estados da região Norte: Amazonas, Rondônia e Amapá. De acordo com a pesquisa, sete estados realizam eleição direta, outros sete fazem eleição e prova e apenas dois estados aplicam apenas prova escrita para escolha dos diretores.

Questionada sobre as desvantagens da escolha por indicação pela Secretaria de Educação, Ana Célia observa apenas uma questão como preocupante. Segundo ela, ocorre uma indisposição e uma insegurança por parte da comunidade escolar “para receber uma pessoa fora do contexto”. “Essa pessoa nova naquele ambiente vai viver um processo de adaptação e conquista daqueles que lá estão. Esse é momento de insegurança que se vive a comunidade de uma escola que recebe um gestor indicado”, explica, ressaltando novamente que é preciso analisar o processo democrático pelo respeito à participação da comunidade na tomada de decisões.