Projeto de alfabetização de idosos tem mudado a vida de moradores da zona Oeste

Uma vida inteira dedicada à família e a lavoura afastaram a aposentada Marlene Barros Alvares dos bancos das salas de aula. Hoje, aos 63 anos, ela sente o gosto de ler e escrever. Ela e mais 44 idosos fazem parte de um projeto de alfabetização desenvolvido na Rede Cidadania Melhor Idade, no bairro Caranã.

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Antes de iniciar as aulas, Marlene foi apresentada às palavras por meio do contato com a Bíblia, em uma comunidade próximo de onde morava no município de Pinheiro, no estado do Maranhão. “Eles me deram uma Bíblia e eu comecei a estudar e aprender as letras e as palavras que elas formavam”, lembra com entusiasmo.

Marlene é mãe de cinco filhos, mas apenas uma mora em Boa Vista e a auxilia no desenvolvimento do aprendizado. “Graças a Deus gosto demais. Me sinto feliz nas aulas, gosto demais do meu professor”, fala empolgada e confessa que, uma vez ou outra, esquece ou troca alguma letra. “O pouco que eu sabia eu não entedia e hoje eu entendo”. Ela aconselha os mais “experientes”: nunca é tarde para iniciar um projeto de vida. “Eu sempre digo que é muito bom começar os estudos porque a gente se anima demais e vai se desenvolvendo todos os dias”, afirma.

Além de Marlene, a alfabetização tem mudado a vida de outras pessoas, como a desempregada Doralice Hermínia Viana, 64, moradora do bairro Senador Hélio Campos, que diz a sala de aula é “o melhor lugar do mundo”. Disse mais, não quer parar por aqui e pretende fazer cursos. “Sei que minha idade não permite mais, mas quero aprender a ler e escrever mais”.

Em dezembro deste ano, Dora, como é chamada, completará 18 anos na capital roraimense. Antes, trabalhava na roça, na cidade de Santa Luzia, no Maranhão, para sustentar uma família numerosa: três filhos e quatro netos.

Para o professor Wilson Roberto Moreira, lecionar para esse público sempre foi um projeto de vida. “Desde a graduação eu tinha um projeto na área de alfabetização para monitores, inclusive, essa ideia foi contemplada pela Universidade Federal de Roraima e levado para o Pará. Então, já era um projeto de vida que tenho batalhado faz tempo e fiquei muito satisfeito em ser convocado para esse trabalho aqui com eles”.fotos-hisraufre-emiliano-8

O conteúdo mostra aos alunos as funções de cada letra e palavra na Língua Portuguesa, assim como acontece na educação infantil. O professor Wilson revela que os discentes estão em uma categoria chamada de analfabetos funcionais. “Na verdade, os que já estão em sala de aula sabem ler e escrever, mas não tem ainda a capacidade de interpretar, e nós trabalhamos essa parte e pedimos a eles muita paciência”, explica.

O projeto de alfabetização da Rede Cidadania Melhor Idade atende 45 alunos divididos em três turmas com 15 integrantes cada. Duas turmas pela manhã e uma à tarde, com aulas de segunda a quinta-feira.

Por Yasmin Guedes

Fotos: Hisraufre Emiliano