“Certo dia, um garoto resolveu correr atrás de seu sonho. Mergulhou nos estudos e afastou-se de tudo de interessante que um adolescente pode viver e descobrir. Não satisfeito, ingressou em uma academia militar, onde internato, cumprimento de ordens e exigências físicas e intelectuais eram naturalmente comuns no seu dia-a-dia”. Esse poderia ser o resumo da vida do jovem roraimense Juliano Ramos Morales, 24 anos, mas é a introdução do seu convite de formatura na Escola Naval. No início do próximo mês de dezembro, ele realiza o sonho da sua vida, presta declaração de Guarda-Marinha e recebe a Espada de Oficial da Marinha do Brasil. Tudo isso, sob os olhos ávidos da sua família, que deve viajar de Roraima ao Rio de Janeiro para assistir à cerimônia.
O caçula de quatro irmãos – filhos da dona Fátima e do seu Gilberto Morales, sempre estudou em escolas públicas. Fez o ensino fundamental na escola estadual Oswaldo Cruz, no centro de Boa Vista, e o médio no antigo CEFET (Centro Federal de Educação Tecnológica), atualmente IFRR (Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia), no bairro Pricumã, e tinha um sonho inquietante desde criança: ser oficial militar. “Como quase todos os meninos (risos)”, diz.
Para alcançar esse sonho, Juliano planejou uma rotina de estudos em casa e na biblioteca da escola, e deixou um pouco de lado as atividades de lazer, comuns a um adolescente. Ele explica que Roraima não tem tradição em oferecer cursos específicos para escolas militares, o que poderia ter ajudado bastante. Aos 17 anos, ensino médio técnico concluído, Juliano resolveu prestar as provas para o Colégio Naval, aproveitando que ainda estava na faixa etária exigida, e cursar novamente os três anos que antecedem a academia militar. “Optei por cursar o Colégio Naval e fazer novamente o ensino médio para não ter que esperar a faixa etária exigida para entrar na Academia”, explica. A prova é considerada uma das mais concorridas do país e exige aplicação aos estudos.
Um dos grandes incentivadores, conforme Juliano, foi o professor Eduardo Cadoca. “Uma das razões do meu sucesso”, elogia o rapaz. O professor morava no bairro Paraviana, na Zona Leste da capital, e o aluno no bairro Cidade Satélite, na Zona Oeste. “Percorria a distância três vezes por semana em bicicleta. Minha mãe preocupada por que tinha que cruzar a cidade. Era difícil, mas eu estava feliz”, comenta.
Juliano chegou a fazer a prova três vezes. Passou na Força Aérea Brasileira, mas um leve desvio na coluna o reprovou na prova física. “Foi a primeira grande decepção da minha vida. Um choque. Já tinha estudado muito, me preparado, mas foi por algo que não dependia de mim”, lembra.
Pensa que ele desistiu? Depois disso, ele foi aprovado pelo Colégio Naval, concluiu o curso de três anos, ingressou na Escola Naval, e após quatro anos de estudos intensos, está se formando esse ano. “Não desisti do meu sonho. Sou marinheiro e outra coisa não quero ser”, resume. No próximo ano, Juliano segue para uma viagem de instrução que deve percorrer vários países, materializando o projeto do menino roraimense. “A ficha ainda não caiu. Não sei. É estranho. É uma coisa que está sendo trabalhada há sete anos, dia após dia, e ainda não acredito. Quando a rotina vai mudar completamente, após a formatura é que vou perceber realmente. Ver as pessoas que sempre me apoiaram, torceram, tão felizes é a melhor parte”, diz ele que atribui à família e a namorada, Priscilla Lessa, a “materialização desse sonho”.
E para quem tem um sonho assim, que parece difícil à primeira vista, ele aconselha: “Se quer atingir um objetivo, não desista. Acredite que você é capaz. Às vezes, só precisamos de um pouco mais de esforço, mas seja qual for o sonho, tem que correr atrás. Persistência e informação, essa é minha dica”, conclui.
Texto: Élissan Paula Rodrigues
Fotos: arquivo pessoal