“É muito mole”. “Isso é frescura”. “Como pode sofrer assim com uma coisa tão normal?”. Essas foram as acusações que a advogada Natália Veras teve que ouvir por muitos anos até conseguir descobrir o que causava as fortes cólicas menstruais, desde os 10 anos de idade.
Ela é uma das mais de 10 milhões de mulheres brasileiras que existem no país com endometriose, uma doença que causa fortes cólicas menstruais, além de dor pélvica, dificuldade para urinar, mudança no hábito intestinal, dificuldade para engravidar e dores durante a relação sexual.“Desde a minha primeira menstruação, eu ficava literalmente doente, literalmente de cama, não conseguia andar. Ao procurar uma resposta, sempre ouvi que era normal, era assim mesmo, além de ouvir os mitos de que quando casasse ia passar, de quando tivesse filho ia acabar, que hoje eu sei q não é verdade”, relembra.
A advogada é quem está há três anos a frente da maior mobilização que acontece todos os anos para desmitificar a doença e conscientizar a população sobre o problema considerado de saúde pública, com a EndoMarcha. “Quando eu tive o diagnóstico de que tinha endometriose, passei a me informar bastante e decidi que não podia deixar outras mulheres passarem pelo que estava passando”, afirma.
Depois de passar por duas cirurgias, ela conta que hoje faz tratamento apenas com medicamentos para controlar os sintomas. Natália lembra que estava com mais de três anos sem ter qualquer sintoma. “Voltei a ter pouquíssimos sintomas esse ano, mas aí é uma cólica até considerada normal, eu chego até a ficar sem remédio. O importante é alertar: a cólica menstrual que você toma um remédio e passa o resto do ciclo bem, é uma cólica normal. Se isso não acontece, é a hora de procurar um médico”, explica.
O ginecologista Alysson Zanatta, especialista em endometriose, reforça, lembrando que o diagnóstico precoce é fundamental para a busca pela cura e pela qualidade de vida da mulher com a doença. “Diante desses sintomas, conversem com seu médico ginecologista, conversem sobre a possibilidade de endometriose, procurem profissionais que consigam fazer o diagnóstico precoce. Isso muda toda uma história. Somente com o diagnóstico definitivo é possível definir qual o melhor tratamento”, ressalta.
Segundo o médico, os prejuízos para a saúde da mulher são enormes. “São desde o afastamento de suas atividades diárias, dificuldades em seu trabalho ou conjugal. São estigmatizadas, pois muitas não têm diagnósticos e são interpretadas com dor psicológica e derivados, então os prejuízos na vida da mulher são muito grandes. Por isso, a importância de fazermos a EndoMarcha todos os anos para alertamos sobre a doença”, observa.
Ele explica que o tratamento da doença é basicamente com medicações para controlar as dores, em maior ou menor grau, mas que não fazem desaparecer. Além do tratamento definitivo que é a cirurgia de remoção dos focos da doença. “Não seria cauterização, seria a remoção dos focos, onde para muitas mulheres pode ter um resultado efetivo”, afirma.