Luís Cláudio Dallier Saldanha[1]
A busca pelo instantâneo é, sem dúvida, um dos sinais do tempo da nossa cultura digital. A um clique ou comando de voz, tem-se instantaneamente informações, imagens, contatos pessoais e, por que não dizer, a própria realidade em sua representação digital.
Na educação, a sala de aula pode estar conectada com o mundo, permitindo que alunos e professores acessem instantaneamente informação e conteúdo que antes limitavam-se a meios impressos ou a espaços como a biblioteca.
Em tempos de conectividade, estudantes podem em qualquer lugar e a qualquer momento assistir a videoaulas, recorrer a professores online ou até mesmo contar com a ajuda de programas de computador que respondem às suas dúvidas.
A oferta variada e instantânea de informação e estímulos, além dos novos formatos e linguagens da interação nas redes, faz com que ouvir um professor por mais de 20 minutos, seja no vídeo ou presencialmente, pareça impossível para estudantes considerados nativos digitais.
Interatividade e instantaneidade a um toque da tela do celular parecem não combinar com práticas de aprendizagem que requerem investimento de tempo em leituras, escutas participativas e diálogos que admitem inclusive o silêncio da reflexão.
Mas se o instantâneo virou bem de primeira necessidade, não se pode esquecer que a vida e a aprendizagem acontecem na duração.
Não se trata de negar que instantes marcam nossa trajetória de vida e muita informação nos esclarece a mente como que repentinamente. A vida, porém, é mais do que amontoado de instantes e a aprendizagem é mais do que consumo rápido de informações.
Uma imagem visualizada, uma informação acessada, um texto lido ou uma aula assistida precisam da duração, da vivência no tempo, da experiência construída pelo retrabalho, pelas articulações ou pelas retomadas que se dão no processo de aprendizagem.
Caso aceitemos que educação é mais do que instrução e nem se reduz a preparar crianças e jovens a ir de uma fase a outra no jogo da vida, cada vez mais em menos tempo e com mais produtividade, precisamos então aceitar o difícil desafio de integrar as tecnologias digitais na escola sem desrespeitar os diferentes ritmos que caracterizam os processos de aprendizagem.
[1] Doutor em Educação e Diretor de Serviços Pedagógicos da Estácio. É autor do livro Fala, oralidade e práticas sociais, Editora InterSaberes, entre outras publicações e artigos sobre tecnologia educacional, educação a distância e estudos linguísticos. Tem
atuado como professor e palestrante no Ensino Superior há vários anos. Foi Diretor Nacional do Centro de Ensino de Licenciaturas da Estácio entre 2015 e 2016.