Da região de Awaris, no município de Amajari, Norte de Roraima, para o restante do país e, quem sabe, do mundo. Índios da etnia Yanomami comercializam o Cogumelo Sanöma, vendidos em São Paulo, Amazonas e aqui em Roraima, na sede da Hutukara Associação Yanomami, na rua Capitão Bessa, no Centro de Boa Vista. O pacote com 15 gramas do alimento, com aproximadamente 10 espécies de cogumelos, custa de R$ 20. A produção é exclusiva e limitada.
O presidente da Hutukara, Davi Kopenawa, explica que a produção começou há alguns meses em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA), uma Organização Não Governamental, com mais de 20 anos de atuação em várias regiões do país, em Bacias Hidrográficas, e em Roraima com os Yanomami. Segundo Davi, o projeto trouxe resultados positivos para os indígenas Sanöma, que passaram a dispor de mais recursos para manutenção da comunidade para a aquisição de ferramentas, como terçados, anzóis e linha de pesca, chamadas por ele como “coisas da cidade”. “É muito importante para meu povo Sanöma produzir pra negociar”, disse.
Ele gosta de destacar a qualidade do alimento, sem agrotóxico, “limpos e naturais”. A produção é simples e fica a cargo da própria natureza: após o roçado, os troncos mais grossos e resistentes às queimadas tornam ambiente propício para geração dos cogumelos Sanöma. “Nós descobrimos que nessa região dá cogumelo de muitas variedades, eu não sei nome de cogumelo diferente, mas tem o branco, o meio roxo, o meio amarelado e por aí vai”, brincou.
Um dos coordenadores do ISA em Roraima, Moreno Saraiva, explicou que o interesse pela comercialização é recente, mas os estudos sobre as espécies da iguaria começaram há cinco anos quando houve uma formação de pesquisadores para atuar junto aos Yanomami. “Uma região específica onde trabalho, Awari Sanöma, uma parte do povo Yanomami, a gente começou um levantamento sobre espécies alimentares. Levantou-se mais de 400 espécies e começamos a organizar esses conhecimentos que eles têm sobre essas espécies”, frisa.
A ideia inicial era fazer com que todo esse conhecimento dos indígenas fosse registrado para servir de base para educação na própria tribo, mas perceberam o possível filão comercial. Segundo Saraiva, a partir daí pediram apoio para comercializarem o cogumelo da região e surgiam então as parcerias para levar o produto para outros cantos do país, como a Hutukara Associação Yanomami, o próprio ISA, Instituto Atala, Banzeiro, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazonia (INPA) e Centro de Estudos Integrados da Biodiversidade da Amazônia (Cenbam). “Então a gente chegou, depois desse processo de pesquisa, à conclusão que o cogumelo Yanomami é produto agrícola deles. A ideia é que esses produtos tragam a valorização do conhecimento deles, que é um conhecimento muito sofisticado sobre a natureza”, enfatiza. Ele garante que a renda com a comercialização retorna ao grupo para investimento local. “Esse é o primeiro cogumelo nativo brasileiro a ser comercializado, isso é um orgulho que a gente tem desse projeto”. O ISA lançou o endereço eletrônico www.cogumeloyanomami.org.br com informações sobre o Cogumelo Sanöma e receitas em que eles podem ser utilizados.
Por Yasmin Guedes
Foto: Jailsom Souza