EM RORAIMA-Pesquisador de etnias indígenas acredita no poder do acesso à Educação

Prova de que a Educação pode mudar vidas, Josué segue trilhando sua carreira acadêmica

  • Élissan Paula Rodrigues
  • Otacílio Monteiro
  • Especial para o EducaRR

“O ensino superior me deu um propósito de vida, de carreira, de profissionalização”. A afirmação é de Josué Santos, 34 anos, mestre em Segurança Pública, Direitos Humanos e Cidadania pela Universidade Estadual de Roraima (UERR) e pesquisador interdisciplinar.

O teólogo nascido no Amazonas e adotado por uma família roraimense aos 17 dias de nascido, já vendeu rifa de chocolates de porta em porta e contou muito com a ajuda da família e de amigos para ter acesso a mais conhecimento e desbravar o mundo praticando Educação. “É a vida que eu tenho construído e é o que eu acredito que pode mudar o mundo. O acesso à Educação”, salientou.

Josué estudou quase sempre em escolas públicas e apenas enquanto tentava cursar uma segunda graduação – a primeira foi em Teologia – foi que se aproximou da área de pesquisa. “Tive muitas experiências nesse período, como bolsista de programa de incentivo à docência do Governo Federal, colaborador em projetos de pesquisa e extensão com indígenas, monitor, membro de grupo de pesquisa em narrativas autobiográficas, interdisciplinares e interculturais da Amazônia, enfim. Experiências que me ajudaram a galgar minha trajetória para as próximas fases”, relembrou.

Nesta época, em busca de mais aprendizado, ele resolveu trancar o curso para praticar voluntariado pelo mundo. “Trabalhei com populações de refugiados urbanos (moradores de ruas, ciganos vivendo próximo dos lixões, entre outros) na Turquia, em um campo de refugiados na Grécia, com populações de refugiados sírios, afegãos e africanos, e fui para Israel, trabalhar como voluntário na embaixada cristã de Jerusalém”, mencionou.

Ao retornar para Roraima trabalhou para as Nações Unidas, na ACNUR, uma agência que trabalha com refugiados. Em 2019, resolveu cursar uma especialização em Filosofia da Religião e daí para chegar no mestrado em Segurança Pública, Direitos Humanos e Cidadania, também pela UERR, foi um pulo. “Resolvi unir minha experiência acadêmica/pesquisa com a profissional, e passei a estudar os processos de aprendizagem de crianças indígenas venezuelanas Warao refugiadas e migrantes vivendo em abrigos urbanos/humanitários em Boa Vista”, comentou Josué.

A dissertação da conclusão de curso defendida por ele no mestrado em abril passado, recebeu recomendação da banca para publicação e se tornou não apenas uma fonte de pesquisa sobre o estado que acolheu Josué na infância, mas também uma referência mundial sobre Roraima.

Site é fonte de pesquisa mundial sobre povos indígenas de Roraima

É possível obter informações sobre etnias brasileiras e venezuelanas que vivem na região

Uma das informações sobre Roraima que mais gera curiosidade das pessoas no mundo inteiro diz respeito à cultura indígena. É que o estado possui em torno de 50 mil indígenas, considerada proporcionalmente a maior população do Brasil. O portal https://povosindigenasrr.uerr.edu.br/ mantém atualizados os dados sobre 13 etnias brasileiras e três venezuelanas.

A ideia original do site surgiu em 2020 durante as aulas da professora doutora Isabella Coutinho, na disciplina Línguas Indígenas do curso de Letras com habilitação em Português/Literatura da Universidade Estadual de Roraima. Naquela época, a plataforma tinha o nome “Línguas Indígenas de Roraima” e tinha como objetivo apresentar os aspectos linguísticos de algumas etnias de Roraima.

Mentora de Josué Santos nas aulas do Mestrado em Segurança Pública, Direitos Humanos e Cidadania, a professora o auxiliou a ampliar o trabalho que virou parte do seu produto de pesquisa para o programa de Mestrado.

“Na minha pesquisa final de mestrado analisei os diferentes processos de aprendizagem que ocorrem dentro dos abrigos urbanos humanitários de Boa Vista, especificamente compreendendo as crianças da etnia Warao. Como desdobramento dessa pesquisa, ampliei e renovei as informações do website. O objetivo da plataforma é apresentar informações acadêmicas atualizadas sobre etnias indígenas que vivem em Roraima, tanto brasileiras quanto venezuelanas”, detalha Josué.

Pesquisadores e interessados nas áreas de Educação, Ciências Sociais, Antropologia, Direitos Humanos e Filosofia, passaram a ter desde abril deste ano um leque de conteúdo sobre a população indígena. “É um espaço que busca ampliar o debate da academia com a sociedade a respeito da migração de indígenas, proporcionando novos olhares em relação aos indígenas amazônidas”, destaca.

Acadêmico transformou relatos sobre voluntariado em livro


Foto/imagem capa do livro: Obra tira dúvidas e faz comentários sobre voluntariado pelo mundo.

“Quem nunca pensou em fazer um voluntariado pelo mundo?”. É com essa pergunta que começa a apresentação do livro “Uma carta sobre as ondas”, que conta detalhes da jornada iniciada em 2017 por Josué Santos, suas descobertas, conhecimentos e trabalho voluntário em questões humanitárias que envolvem contextos de vulnerabilidade social.

A ideia, conforme ele, é inspirar outras pessoas a também conhecer novos lugares, culturas, povos e línguas. “Conto com mais detalhes essa experiência de voluntariado pelo mundo, fui jurado voluntario pelo TJRR, fui mentor em um evento nacional da NASA, fui instrutor convidado pelo Ministério da Defesa para treinamentos relacionados a operações humanitárias e de paz das Nações Unidas às forças armadas do brasil, e mais recentemente, fui membro da comissão de avaliação da ‘Feira Brasileira de Jovens Cientistas’ (FBJC)”, narra Josué.

Fora isso, o autor é atualmente membro do grupo de pesquisa ‘Escola Amazônica de Filosofia’ da Universidade Estadual de Roraima e já pleiteia vaga no doutorado em Educação da USP. “Passei em quase todas as fases e o resultado final saí agora dia 30 (na torcida!)”, revela.

É possível adquirir a obra é comercializada pela editora Jocum Brasil, por R$30. Para adquirir basta acessar o link: https://www.editorajocum.com.br/uma-carta-sobre-as-ondas—josue-santos/p

Artigo sobre ensino de Português em comunidades indígenas será apresentado nos EUA

Evento será em agosto, em Harvard, universidade reconhecida mundialmente

Clique aqui para conferir a programação https://www.emepsite.com/programaprogram

Josué Santos vai apresentar o artigo “Da cabana de palha aos muros de concreto: um estudo comparativo do ensino de português em dois contextos indígenas amazônicos”, nos Estados Unidos da América (EUA) no próximo mês de agosto. Ele vai participar do Encontro Mundial Sobre o Ensino de Português, um evento acadêmico organizado pela American Organization of Teachers of Portuguese (AOTP).

O trabalho foi orientado e co-escrito pela professora Dra. Isabella Coutinho Costa, do Mestrado em Segurança Pública, Direitos Humanos e Cidadania da Universidade Estadual de Roraima e faz uma análise sobre o ensino de Português em um abrigo urbano de Boa Vista, com refugiados e migrantes indígenas venezuelanos, e na Escola Estadual Indígena Índio Hermínio Paulino, localizada na Comunidade São Pedro, na terra indígena Raposa Serra do sol, região do Baixo Cotingo, município de Normandia.

“O artigo pontua as similaridades e diferenças no processo de aprendizagem do português nesses ambientes ao abordar os processos interculturais atualmente em prática”, detalha Josué.

Conhecer Harvard é mais um sonho que o acadêmico vai realizar em breve. “Li livros de pessoas que já foram para lá, sempre busquei uma oportunidade e agora consegui. Essa conquista é o ápice de minha carreira/vida acadêmica e pessoal e a oportunidade de levar o nome de Roraima para o mundo”, comemora.

Mestrado em Segurança Pública da Uerr incentiva a criação de produtos


Foto fachada da Uerr: Universidade oferta novas vagas para programa todos os anos.

O artigo que Josué Santos apresentará no evento acadêmico nos Estados Unidos é resultado das pesquisas realizadas por ele durante o Programa de Mestrado Profissional em Segurança Pública, Direitos Humanos e Cidadania da Universidade Estadual de Roraima (UERR). O curso foi criado em 2015 em Boa Vista e as aulas são presenciais.

Além das disciplinas curriculares obrigatórias, os alunos podem cursar disciplinas opcionais, participar de seminários de pesquisa, atividades complementares e núcleos de estudos. Para concluir o mestrado, o aluno deve apresentar uma dissertação ou trabalho equivalente que será avaliado por uma banca examinadora.

Esse programa de pós-graduação aposta na inovação, por isso, incentiva a criação de “produtos” como trabalhos para a conclusão do curso. A proposta é que todos contribuam de alguma forma para a sociedade civil organizada, como manuais técnicos, políticas públicas ou legislação.

Josué desenvolveu dois “produtos”: o portal Povos Indígenas de/em Roraima, que reúne informações atualizadas sobre as etnias brasileiras e venezuelanas presentes no estado, e o artigo que será apresentado em agosto em Harvard, que analisa o ensino da língua portuguesa para indígenas brasileiros e venezuelanos que moram no Estado.

A UERR oferece 20 vagas a cada ano (entre os meses de junho e julho) para o mestrado. Qualquer pessoa com diploma de graduação em uma das áreas afins do curso pode participar do processo seletivo. Os interessados podem obter mais informações acessando o site uerr.edu.br/mps ou enviando e-mail para propei@uerr.edu.br.